Geraram-te mulher,
Chamusca bela,
Pincelada nas tuas
cores da alegria.
Esticaram-te pela
campina singela
os toiros bravos de
tinta sombria.
Cavalos montados com
destreza
exibem os trajes de
arrojo e suor,
quando engalanados
com beleza
entregam-se à faina
com fulgor.
O teu retrato dos
meus jovens dias,
lembra-se saudoso no
nosso olhar,
das tuas gentes de
lutas sadias,
de voz quente sempre
a reinar.
Aquecem-te com tinto
as goelas
e ensaiam acordes do
fado maior.
Adormecem-te nas
noites belas
ou no leito aguado
de um luar pior.
Chamusca, porto da
Lezíria serena,
dona de um cais regaço
de gentes,
que aportavam afoitas
na água plena
ou esticavam as suas
redes urgentes.
Pescavam os peixes
doces e certeiros
das bateiras, barcas
e árduas canoas
e envolviam-se no
sonho dos avieiros
dando asas penosas às
Tágides boas.
Ó Chamusca enlaça a
nossa poesia
nas tuas terras
margens de aluvião!
Espalha a seara
multicolor de dia
aquecendo-a no teu
sol de paixão.
Ainda escuto as
mulheres lavando
no seu porto de
partidas fluviais.
Batem roupa dos que
vão chegando
e choram os que não
voltam mais.
Mulher arrojada de
bravura taurina
e como elas lavas o
teu belo rosto.
Mantém a jovialidade
de uma menina
e trabalha animada até
ao sol-posto.
Com o nosso olhar
simples, ó Chamusca,
pinta-se e
escreve-se duma vila bela.
Assim a terra branca
de gente fusca,
será sempre mote de amor
por ela.
Chamusca, se os nossos
olhos te amam
é porque sabem bem o
que é amar…
Não carecem da
beleza que clamam,
deixando para sempre
este nosso olhar.