quinta-feira, 26 de setembro de 2019

O reconhecimento dos leitores

Foi no passado sábado, dia 21 de setembro, que subi ao palco do auditório Ruy de Carvalho em Carnaxide, na Gala dos Autores, para receber um segundo prémio na minha atual editora, a Cordel d' Prata, na categoria romance pela minha obra "O Trilho da Rata Cega". 
      O dia muito chuvoso fazia-me prever algo negativo, quiçá a derrota, mas, bem lá no fundo do meu coração, ainda residia a esperança. Tinha plena consciência que seria difícil voltar a vencer, dado que a 11 de novembro já havia recebido o Prémio Melhor Obra 2018. No entanto tinha fé, uma fé muito escondida no meu coração, porque os familiares, os amigos votavam diariamente. Inclusive um grupo de colegas autores votavam no meu livro, tal como eu votava no deles. Estava tudo em aberto, mas essa concorrência bastante cordial e parceira naquela votação era fiel e verdadeira.
      Havia feito o trabalho de casa, preparando o discurso em papel, mas durante os dias que antecederam a Gala dizia para mim própria: "E se perder? E se desiludir as pessoas que votaram em mim? Vou-me sentir péssima!" E insisti publicando quase até à exaustão num apelo constante à votação para não desiludir ninguém nem a mim mesma. A atenção e a confiança dos leitores, familiares e amigos eram maiores do que a minha. Muitas vezes me asseguraram: "Vai vencer. Claro que vai vencer!" E eu retorquia: "Não sei. Não será fácil um livro vencer pela segunda vez." As certezas das pessoas eram muitas, mas deviam estar equilibradas com as minhas dúvidas.
      A tarde da Gala chegou e o meu nervosismo misturou-se com sorrisos, beijos e abraços, tentando fazer-me mais forte do que na realidade me sentia. 
  O título da obra vencedora na categoria romance foi anunciado e eu lá embasbaquei mais uma vez com as palmas. "Venci!" - gritei, surdamente. Um misto de sentimentos assolou-me à mente. As vozes pequeninas na minha cabeça, à medida que me aproximava do palco, repetiam: "Venceste, mulher! Como é possível? Outra vez? Agora tens a parte do discurso! Lá te vais enervar outra vez de voz entrecortada e aos solavancos! Ainda por cima és a única que levas papel! Que hão de pensar? Que sabias que ias vencer? Mentira! Nunca soubeste! Nem adivinhaste! Ninguém te disse! Apenas fizeste o teu trabalho de casa! Se a editora te tinha avisado e aos teus colegas que tínhamos que levar discurso preparado… Gostaria de falar de improviso, saía tudo mais natural e autêntico. Assim vai parecer uma encenação certa e direitinha! Queira Deus que a colega que vieste representar vença, para leres o discurso dela, senão vai ser mau! Se ela vencer, tiras a túnica e os óculos para pareceres outra! Vais andar às apalpadelas! Vamos a isso, Paula Araújo! Vais conseguir subir a este palco sem te espetares no chão! Jesus, tanta luz, não vejo nada!" 
     Cheguei ao palco e o apresentador apelava a um discurso curto e eu levava um camião de palavras. Teria que me apressar, mas os meus nervos não me deixavam. Acelerei o que pude. Daquele lugar agradeci não ver o público com tanta luz. Sinceramente não sei como vi as letras, mas havia tido a feliz ideia de colocar os carateres a Arial tamanho 14. O apresentador ao meu lado olhava para a dimensão da minha composição. Parecia mais aflito do que eu para terminar. Julgo que tinha a ver com a duração do direto. Não li o último parágrafo. Voltei ao meu lugar com uma imensa vontade de chorar e de beijar aquele troféu. Beijei-o na escuridão, confesso. Tinha-o ali nas minhas mãos e tê-lo era o reconhecimento que o meu público, familiares, amigos, leitores em geral, gostavam de mim, me apoiavam e me acompanhavam sempre nestes desafios. Sentia-me tão grata por tudo isso. 
    Um livro dá muito trabalho a escrever, mas esse trabalho é compensado pelas manifestações de carinho e de apoio das pessoas que acreditam que temos valor. E quando o mesmo livro nos permite o alcance de três prémios, sentimo-nos orgulhosas por termos amigos assim. 
    Os três troféus estão comigo, mas eles são de todos os que me apoiam. Foi o meu público que me possibilitou recebê-los. Para mim são mesmo três e simbolizam o amor, a amizade e o companheirismo. 
    Muito obrigada a todos pela confiança demonstrada mais uma vez por mim! 

     

quinta-feira, 12 de setembro de 2019

Pais ou estudantes?

   
Nesta altura há milhares de jovens a entrar no ensino universitário. 
Constato que os números de hoje em dia equilibram a entrada de rapazes e raparigas no ensino universitário à procura de uma carreira e de um possível futuro, mas ainda há quem opte por não continuar a estudar e decida ir trabalhar. Não é que não se precise de renovar o mundo laboral, em que os mais velhos se reformem e os mais novos ocupem o seu lugar, mas é a escolha ou a opção que se é obrigado a fazer, por motivos económicos ou simplesmente porque se quer começar a receber dinheiro, ou até a urgência de se constituir família.
         Para outros, a opção de não continuar a estudar é bem pensada e desejada, porque o seu pensamento e percurso na escola, já previa esse desfecho ou essa concretização. 
        E ainda há outros jovens que pela sua imaturidade e não perceção do que desejam seguir, que tipo de curso pretendem, ficam numa espécie de "gap year", fazendo part-times aqui e ali, sob a desculpa de não saber bem o que anseiam estudar.
       Conheço rapazes e raparigas que, por opção entram logo no mundo do trabalho e, poucos anos depois, se tornam pais e mães. Uns, fazem uma boa opção, outros não. Acredito que alguns tenham perdido uma boa parte da sua juventude para se entregar ao mundo sério de uma família. Inevitavelmente entre eles há uma percentagem em que a vida não lhes corre nada bem. Será porque não tiveram maturidade suficiente para suportar as dificuldades? Porque não têm resistência perante os fracassos? Porque veem os colegas ir mais além e eles já carregam o fardo pesado de uma família, com poucas novidades? Porque se sentem frustrados, cansados, quando veem os outros no auge da juventude? 
      Existem mil e uma questões que nos ocorrem quando vemos a lista de colocados no ensino superior e não estão lá alguns, que escolhem outros caminhos, mesmo sabendo que a procura de um primeiro emprego não é fácil. Vão em busca de um garante económico e preferem receberem um salário do que esforçarem-se e o orçamento familiar dos pais, durante três ou quatro anos. 
       Ficam aqui estes apontamentos. Interessa que a opção tomada seja convicta e segura e que os torne realizados e felizes, sejam eles pais aos vinte anos ou estudantes universitários, longe de se preocuparem com a constituição de uma família - o importante é saber escolher um caminho certo para a concretização do seu futuro. 
(Imagem da Google)