quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019

O início de "qualquer coisa"


Apresento-vos algo que comecei a escrever há uns anos. Gostaria de ter opiniões, leitores!
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Não sei… odeio-te ou amo-te? Não sei, Céus! Não sei, na verdade, não sei!
Os sentimentos confundem-se como jactos que tingem o coração. Fervem por ti em laivos de raiva, tal como aquecem por ti no clímax quente da noite. Traem-se de vermelho e acomodam-se de branco na paz e ternura dos lençóis. Não durmo, como posso dormir, se nestes pensamentos confusos, transpiro de ódio e injecto o amor que sinto por ti. O pesadelo do Hades transforma-me a alma, mas há sempre um anjo que me ampara na chama acesa dos meus melhores sonhos. Acode-me, enternecendo-me por momentos, mas despreza-me por vezes, deixando-me à deriva nos caminhos do inferno.
É ódio, sim, ódio, só pode ser. Ninguém sente esta confusão imersa nos pensamentos mais doces, esta vontade de vingança, sem odiar. Mas, nesta forma de te odiar, acabo por te amar avassaladoramente, numa paixão fogosa, de extremos, por te querer odiar com todo o âmago da alma.
Será orgulho ferido, lacerado pelas forquilhas das suas palavras, dos teus gestos que me magoaram? Quase me levaste à morte? Quase me atiraste para o sofá do psiquiatra? Quase me fizeste perder tudo o que amo? Por ti? Por um homem que não merece o chão que pisa? Os alimentos que come? Por um homem que se diz rico, mas é o maior pobre do mundo em sentimentos, que não consegue amar ninguém?
Mas amo-te ou odeio-te? Venero-te ou piso-te com os ventrículos negros do meu coração? Só te posso odiar depois do que passei por ti e contigo. Porém, não sei, o ódio pesa no prato da balança, mais do que a paixão. Essa paixão que sobra de ti, leva-me ao desespero, ao infortúnio… meu amor… custa chamar-te meu amor, custa chamar-te querido, foste o mais vil dos homens, rancoroso, dominador, tirano até. E eu escrava de ti, e de mim. Sim, fui serva do teu corpo, cativa. Como te posso amar?
Mudaste a minha vida para o melhor e para o pior, amor, e, no entanto, o que resta desta nossa história? Nada. Ou muito? Muita coisa se guerreou entre as fronteiras ardentes do ódio, do ciúme, da raiva, do desprezo e as nuvens brandas da recordação, da amizade e do amor. No meio delas, nós.
Separados. Apartados. Talvez perdidos para sempre. Cada um para seu lado. Condenados ao egoísmo e à prisão de um individualismo puro. Como errantes pedintes de amor, não nos acertaram as flechas do Cupido, mas nas forquilhas do Diabo, cravando um no outro um rancor aceso em argutas e incendiadas discussões. Cozinhando o ódio cada um à sua maneira.
E resta a nossa história. A história que vivemos. Feita de traições ao que assinámos como eterno. Costurada de lágrimas e de dor, onde a compaixão e a solidariedade esconderam-se da vida que partilhámos.
Odeio-te tanto, mas amo-te ainda mais. Com toda a fúria do meu coração. Porquê? Porque é que me trocaste nos teus ventrículos, e os puseste a bater por outro alguém? Sentias-te assim tão confinado às grades do meu amor? Eu não te prendia, não te amarrava a mim, como se amarram animais a um poste. Se havia cordas que te prendessem a mim eram as da confiança, da honestidade; e essas, fizeste questão de as cortar! Pobre de mim que acreditei! Confiei que o sol da bem-aventurança e da felicidade me estavam reservados por ti!
Coitados daqueles que creem que há amor sincero e duradouro, sem pitadinha de raiva, de ressentimento, de suspeita ou desconfiança e de represálias! Enganam-se todos os que amam, penso isto agora, de olhos mais abertos. Anteriormente a cegueira tapava-me os sentidos. Os olhos, a boca, o nariz, os ouvidos as mãos eram teus. Incondicionalmente teus. Tudo era teu. De mim, não restava nada. Tu eras o meu universo, e os meus sentidos, como planetas, pairavam em teu redor. O sol brilhava. A lua alumiava as minhas noites contigo, e perdia-me cega; perdia-me louca; perdia-me tensa na satisfação de te ter. Mas eras tu que me tinhas! Corrompias-me os sentimentos; davas-me doses de paixão, administradas com sabedoria, para me prender nos teus braços, na tua boca, no teu corpo; e deixavas-me no êxtase e na agitação para me tornares uma sonâmbula no amor. Envenenavas, sem eu saber, pouco a pouco a minha vida; ludibriavas a minha noção de amar…e eu achava-me amada, adorada por ti até aos limites! Engano o meu. Fui burlada no amor, na amizade que te tinha desde jovem; nos laços que nos mantinham juntos!
Resta neste momento o ódio, o desalento, o infortúnio. Resta uma vida de anos banais enganados pela alegria fingida e pela esperança. Casa, bens, filhos… Promessas vãs de uma vida! Parecia termos construído a paz juntos; cimentado a nossa vida com um amor forte, inquebrável… O que resta disso? Nada! Apenas a memória fervente do meu ódio real de te amar tanto ainda. Mesmo muito! E as réstias desse amor são estes filhos, retratos gémeos de ti! Um é fruto do meu amor, os outros da tua posse sobre mim! Amo-os a todos!
Esse ódio tolhe-me a vista mais desperta, mas não suporto a solidão, o desprezo, a intolerância e a incompreensão dos outros à minha volta, o desrespeito por mim como pessoa! Julgam-me como se fosse a pecadora; a culpada da nossa separação! Julgam-me por te roubar a casa, os filhos! Por ficar com a parte melhor do que construímos! Tomara eu que o caminho fosse outro! Tomara eu que não tivesses usado as unhas do teu asco, do teu desprezo em mim! Como te detesto! Como odeio o facto de te teres aproveitado da minha honestidade, da minha entrega, para teu usufruto! Como detesto amar-te para te odiar! Sinto que esta história que preciso redigir para me curar de ti é o prelúdio do fim.

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