domingo, 17 de fevereiro de 2019

Entre duas profissões

Sinto-me sempre assim - dividida entre duas profissões. Uma, da qual usufruo o ganho para pagar as minhas contas, séria, exaustiva e outra que me enche a alma, que adoro e que gostaria de exercer sempre. Escrever, ou melhor ser escritora, não é propriamente uma profissão, no sentido da palavra, é uma missão.
Uma complementa a outra. Uma suporta a outra. Uma é o refúgio da outra.
Que seria de mim, se a de escritora não existisse!? Nem imagino tal coisa! Só eu sei o que vai na minha mente quando estou inibida de não poder fazer uma sessão, uma Feira do Livro, uma atividade qualquer para divulgar o que escrevo.  Parada não consigo estar, porque sofro de uma enfermidade chamada "criatividade". Que medicamento posso tomar para curar esta doença? A escrita, seja em que moldes for.
E quando não tenho eventos marcados invento, mesmo que me julguem louca. Vou para o jardim, carrego os livros, exponho-os e crio a minha feirinha do livro. Adoro ver toda a minha criação, todo o meu empenho nos meus livros. 
Por vezes, é tão difícil gerir o tempo que tenho que dedicar a uma e a outra profissão, que me esqueço do tempo.Quero sempre prolongar o que dedico à da escrita, da criação, mas tenho que colocar travão a fundo nesse anseio, porque a outra é o meu ganha-pão e ocupa-me imenso tempo. 
De qualquer modo, se pudesse escolher dedicava-me apenas a conceção de histórias, de textos, de livros. No entanto teria um grande problema. Poderia ter a alma cheia, mas o estômago vazio. São poucos os escritores que se conseguem sustentar com a venda dos seus livros. Daí que, mesmo que dividida entre duas profissões, tenho que ter a outra. 




sábado, 16 de fevereiro de 2019

O que fazer quando nos fazem propostas irrecusáveis?

Já tive várias propostas nesta carreira de escritora, que recusei e desperdicei.
Na verdade, sei que fiz mal em alguns casos.
Recordo uma que me marcou profundamente, após um desfecho fatal posterior. Em 2012 encontrei um autor na Note em Torres Novas, um autor célebre, com sucessos enormes no nosso país e no estrangeiro. Luís Miguel Rocha. Abordei-o para lhe pedir um autógrafo. Estava a trabalhar com a Porto Editora e, ao desvendar-lhe que tinha dois romances escritos, deu-me atenciosamente o seu email para lhe enviar as propostas. Garantiu-me que ia dar-lhes atenção, lê-los e encaminhá-los para as pessoas certas. Ora bem, eu, com a minha mania de que hei de subir nesta carreira pelos meus próprios pés, decidi não enviar nada. Ao longo dos anos, fui-me arrependendo disso muitas vezes, mas nada fiz. 
Fiquei desolada quando recebo a notícia do seu falecimento prematuro. Chorei. Lamentei a morte e o não ter aproveitado aquela oportunidade. 
Depois, aqui a uns tempos, disseram-me que se quisesse ir à televisão falar dos meus livros, que dissesse... pois trabalhavam lá, e eu na minha honesta forma de ver as coisas, voltei a recusar aquela proposta.
Há uns meses, ao enviar a uma editora um livro para apreciação, fizeram-me uma proposta derradeira de o publicar gratuitamente, desde que vendesse um certo número de exemplares, e eu voltei a pensar na honestidade e tive receio de me aventurar. 
Agora recebo a proposta de publicar novamente por uma editora, que conheço bem, e eu estou outra vez na indecisão e na reflexão.
O que fazer afinal quando nos fazem propostas irrecusáveis?  
Pensamos e pensamos ou damos imediatamente uma resposta e deixamos de refletir tanto?

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019

O sonho de ser escritora

O sonho de ser escritora esteve oculto em mim até ao momento em que publico o meu segundo livro. De facto foi com a publicação de Histórias Sem Idade (2011, Chiado Editora), livro apresentado na FNAC Vasco da Gama por duas crianças, que senti verdadeiramente que talvez tivesse jeito para a escrita e para me projetar para o público, com apresentações e dinamização dos meus contos. 
Durante três anos dediquei-me a promover e a divulgar os contos daquela coletânea em Bibliotecas Municipais, em escolas do 1º, 2º e 3ºs ciclos, centradas essencialmente no Ribatejo e na região de Leiria, em escolas de ensino e recuperação infantil e juvenil, em Feiras do Livro, em instituições, tais como, Bombeiros Voluntários e lares de terceira idade, etc. 
Em três anos levei os meus dez contos a crianças de tenra idade e a idosos de avançada idade, que acolheram muito bem a forma como interagi com eles e os mimei com surpresas, abraços e risos.  
Fui presenteada e surpreendida com atuações e representações dos meus contos, com apresentações em PowerPoint feitas pelos alunos, com leitura dos contos, com momentos musicais preparados para me receber, com flores, com livros locais, troféus, com diplomas que conservo de todos os lugares por onde passei. 
Foi uma digressão tão emocionante e exaustiva, que conseguiu perdurar até hoje, ou seja, ainda em novembro de 2018, volvidos sete anos da publicação desta coletânea, produzi atividades para os mais pequenos, que se deliciaram com os contos. 
Por isso, meus caros, julgo que foi em 2011 que comecei a sentir que me tinha que dedicar a este hobby.  No culminar da primeira fase da digressão, consegui dar continuidade a este prazer de escrever e publicar o meu primeiro romance juvenil Salvador e a Talha da Felicidade (2014, Ed. Vieira da Silva), e aproveitar os conhecimentos que adquiri com o livro anterior e passar praticamente pelos mesmos locais onde havia estado. 
O sonho tem-se mantido intacto e após seis livros publicados, dois num só ano, posso ter envelhecido e esgotado a energia de uma réstia de juventude que tinha, mas tento não parar de escrever, pois é o meu escape, o meu refúgio. 
Tenho conservado boas relações com o público pelos locais onde apresento e, talvez deixe, uma ténue lembrança de mim, e vou aprofundando os contactos. Na maioria das vezes sou eu que faço o marketing e a divulgação dos eventos, porque quero continuar a concretizar este sonho. Sou teimosa, persistente e empenhada na minha missão. 
Portanto, falta somente uma oportunidade maior para conseguir ir mais além. 
Por enquanto deixem-me voar nas asas da imaginação como a menina que voava sem asas


quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

Malmequeres da vida


Malmequeres da vida
Alegrai o meu destino.
Arranjai-me uma saída
Sempre com saúde e tino.

Não murchem na campina
Se vos cortarem o prazer.
Quero conservar de menina
O espaço ideal de vos ver.

 


“Girassóis da lezíria”- Acrílico e esferográfica sobre tela solta.
  

Rosário Sousa