Vivemos num mundo em que as pessoas cada vez mais experienciam momentos soturnos de introspeção, no isolamento dentro da sua própria família, da sociedade, na verdadeira ausência de comunicação cara a cara, também no seio familiar, apesar de estarem constantemente nas chamadas "redes sociais" e nos "chats". Hoje em dia, muitas pessoas sentem-se quase incapazes de aceitar a negação, a realidade dura do dia a dia; em suma, às voltas por vezes árduas da vida. As pessoas são tentadas a apelar aos outros para os ajudar a suportar o desespero em que vivem.
Vive-se num silêncio assustador dentro das suas próprias casas, à mesa com a sua família, olhando para um telemóvel e vendo todas as novidades das publicações da vida dos outros. Luta-se para mostrar que as suas vidas são melhores do que as dos amigos virtuais, ou reais.
Se ainda nos conseguimos distanciar desta realidade atual ou estamos imunes aos efeitos devastadores da intromissão na privacidade pessoal, observamos provas concretas em como as pessoas estão sós, apesar de terem centenas de amigos virtuais. Sentem necessidade de expor a sua vida, de confessar os seus medos, as suas angústias, os seus cansaços para aquele leque de "amigos", sem preverem a dimensão dessa exposição.
Há casos e casos de pessoas que aproveitam as redes sociais para apelar, para alertar, para pedir ajuda, para chamar sobre si a atenção, para confessar ódios, para ameaçar ou para confessar sentimentos e revoltas. Enfim, as redes sociais tornaram-se autênticos locais de confissão, onde a vida se escancara de portas abertas, de uma forma gratuita. Locais onde se buscam "carinhas" e números de gostos e de visualizações. Espaços onde praticamente tudo se faz e se diz sem limites, por vezes, com verdadeiras ofensas à integridade pessoal. Espaços que estão disponíveis para as crianças pequenas, que, aliás, estão expostas através de fotos, tendo elas próprias entrada nas "redes".
Nas confissões expostas nas redes sociais apercebemo-nos que há pessoas que estão muito abaladas, infelizes, com pensamentos muito negativos devido a circunstâncias penosas da perda de alguém ou de separação e tentamos ajudar, comentando e convencendo-as a ter coragem e esperança. Porém sentimos que também entramos neste jogo de expor ou julgar a vida dos outros, sem a conhecer, simplesmente porque tentamos auxiliar, quase numa missão heroica. Sentimos quase o dever de colocar lá a carinha triste ou de fazer um comentário solidário.
É viciante este jogo do "aqui nos confessamos diariamente, redes sociais" ou " aqui postamos fotos e fotos, mudando perfis e capas, escrevendo comentários e comentários" para que tenhamos visualizações e os nossos amigos virtuais não se esqueçam de nós. Entramos neste jogo às cegas, sabendo conscientemente que muita gente vê o que publicamos, mesmo que não reaja, e julgamos que as redes nos ocupam o tempo, as horas e os dias, que são os nossos diários. Esquecemos de aproveitar o tempo para viver, longe destas formas meio manipuladoras de consciências. Investimos tudo nelas para nos sentirmos "acompanhados" ou "falarmos", quando, na verdade, estamos cada vez mais sós e incapazes de enfrentar a recusa, a negação, o esquecimento, ou de encarar os outros para encontrar soluções ou caminhos diferentes pelo diálogo.
Acabamos por estar numa cilada complicada quando vivemos de e para as redes sociais.
A vida vai muito mais para além destes novos mentores orientadores e manipuladores de consciências e de vivências do quotidiano! A vida não se deve atirar para as redes sociais! A nossa vida tem que sair delas, se proteger da exposição, para se construir com felicidade e ser só nossa e não partilhada excessiva e mecanicamente com os outros, digo, aqueles que são apenas "amigos virtuais". Devemos cultivar as amizades reais e puras, porque com essas podemos conversar e encontrar o apoio e o caminho real da vida.
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