domingo, 27 de janeiro de 2019

CRISE... (poema escrito em 2011)








Palavra curta e acutilante,
sonante e ensurdecida,
perdida, possante
e sentida…
Palavra marcante…
Breve ou longa no tempo
e na vida
de um país pequeno ou grande.
Afiada como uma navalha
que crava feridas no peito;
sutura de uma economia
que falha,
e que por despeito
entrega nos braços da incerteza:
Gente…
e conduz por trilhos inseguros do futuro
para a miséria ou pobreza
um país coberto de míngua e de fome…
Crise que é gente
que tem presa na garganta a dor
e enche de pranto
o silêncio…
e que se agiganta
num amanhã incolor
sem arco-íris de encanto
e vive a dor
no beco mais escuro
da vida.

CRISE…
Palavra vã e efémera
criada pelo Homem;
inventada pelo modernismo.
Seca,
estéril,
simples eufemismo,
quiçá quimera,
indesejada e temida.
Crise que lança a desgraça,
febril,
sedenta
por justiça.
Crise…
como um caçador vigilante que caça
e preguiça
lentamente dolente
e ataca
as vítimas,
e depois sem dó rebenta
indiferente
com as suas entranhas
e com o seu magro sustento.
Caçadora poderosa,
possante,
insensível,
que leva toda a existência
do nada
de um povo errante
que se lamenta
e sofre inconsolável
e sem essência
a alvorada
sombria
e enlutada
da vida.

Crise…
Assassina da esperança,
da coragem,
da boa ventura,
dos objectivos concretos,
de sonhos insurrectos,
e que lança na vadiagem
e no desespero
os mais pobres,
que na sua desventura
se embrenham
na sociedade
perdidos,
libertos de regras
numa aventura
perigosa
e sem fim.

Crise….
alimentadora de vícios
dos Homens
na embriaguez
da loucura
que experimentam
na aldeia, vila ou cidade
a prostituição, o roubo ou o crime
para silenciar
sustidos,
amargurados
a ausência
do amor
de uma família.
Homens e mulheres sem destino
a quem uma ninfa vidente,
feiticeira do desamor
empurrou
sublime
na sua vidência
para o limite
da sua existência
e pressagiou
a ruína da vida.

Crise dos ricos e dos pobres,
alada por todo o mundo,
chorada,
mordaz,
crítica,
vizinha de bairros de lata salobres,
severa e tenaz,
inquilina de apartamentos luxuosos
e elíptica,
que assaz
disfarça
a rudeza da escassez
usando intrincados enredos
para fingir
imunidade ao engano.
Fustigadora da paz.
Implacável,
Odiosa,
que com vil rapidez
e sem segredos
enlaça
tenebrosa
nas suas fortes e ferozes teias
os mais desprevenidos,
causando dano,
perda,
embaraço,
humilhação
e sofrimento.
Crise…
Promotora do infortúnio
da perdição,
da morte,
do desespero,
e do desalento.
Anunciadora do mal;
cangalheira
que espera ter a sorte
de fechar
num caixão
e enterrar
numa cova funda
a razão principal
da luz da vida.

Crise moral ou de valores
envolta em juízos e pudores.
Crise económica ou financeira,
onde a falta de dinheiro
prega
aos doutos economistas
uma rasteira.
Crise política e de partidos
onde nem se entendem
os ouvidos…
É a gente
que fica sempre
com a crise…
E ela passa
quando quer…
Sorrateira
ou esperançada
por regressar em breve
e colocar mais uma vez a ratoeira
para a gente pisar
nem que seja ao de leve.

Cabra da crise!
Cogitam os impulsivos
com os seus motivos
e sentem-se
perdidos,
ofendidos,
impotentes
para a combater.

Mas a Crise
também seduz e atraiçoa
simultaneamente
Consome e mata pouco a pouco
qualquer pessoa
e de repente….
some,
desvanece
como que por encanto
lançando o feitiço
enganador
à gente
e provoca uma dor
profunda
a quem a sente.

Raios a partam!
Que a leve o Diabo!
e abandone a mente
sofrida
de quem
quer viver
como gente
a alegria da vida.

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