domingo, 27 de janeiro de 2019

Lendas de La (Candidatura ao Concurso de Poesia Agostinho Gomes

Duas lendas ecoam num parque santo,
saltam da boca das gentes de fé antiga:
uma feita de súplica de água temente,
implora a chuva branda rezando cantiga.
Vagueia o povo no louvor de um manto
num verão violento de suor ardente
e pelo Monte Castro pleno de espiga.
Ergue a esperança peregrina e quente,
anunciando a escalada pelo pranto.
Entrega-se o povo prometido à santa,
que, orando, ergue o rosto lacrimal
cheio do seu dom cristão de acreditar;
pleno de piedade pedida sem igual
reza, ensaiando Ave-marias e canta,
para o alto cume conseguir aforar.
Cumpriu a jura e ergueu o pedestal,
depois de ter visto a chuva chorar,
erigiu da sua fé pela capela a planta.
E a lenda idosa que conta de um dedo,
que resta do larápio à capela guardada.
Dormia o capelão, um sono descansado,
quando o gatuno queria da santa sagrada,
roubar-lhe o anel precioso em segredo.
Forçou a sorte, e o elo rico bem agarrado
não sobrou dela, na mão quase quebrada,
partindo o dedo fino à força arrancado.
Depois quis fugir do guardião com medo.
Em vão planeou alar à bala do vento,
ao fogo da caçadeira viva para a morte.
Na investida surpresa os braços ergueu,
cedendo o dedo apartado pela vã sorte.
Ancorou a sua carne naquele momento
e escapando vivo, nem o susto gemeu.
O zeloso guarda abrigou num vidro forte
a rendição justa à santa do que era seu,
que ainda lhe serve hoje de ornamento.

Oliveira de Azeméis abriga as tuas lendas!
La Salete ampara no ventre a cidade divina!
Mas se te envolverem em árduas contendas,
recorda-te do dedo e da chuva cristalina,
que serão sempre, santa, as tuas oferendas.

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