(Imagens da Google)
Cresci num tempo em que as regras e a rigidez delas dominavam os meus dias. Fosse em casa ou na escola, a vida era pouco colorida e pouco dada a grandes ilusões. Incrivelmente sempre as tive e sempre me senti diferente por isso. Recordo a infância e a adolescência, sempre acabrunhada e pensativa, chegada aos cantos. Quantas vezes fui vítima do tão chamado "bullying" e chorei a minha sorte, mas mesmo tocada pela melancolia, a tristeza e algum azar, acabava os meus dias a escrever qualquer coisa no meu diário. O meu pobre companheiro e abrigo de desabafos de dias turbulentos.
Certo é que, esse lado sério e triste do meu crescimento, acabou por me dar o poder de observação, das vivências duras que afinal eram experiências de vida. Talvez esse carácter pesado na minha escrita esteja mesmo marcado por essas vivências, e o tom um pouco monocórdico seja o resultado de tantos encantos e desencantos que experimentei, mas, na verdade, abasteceram a minha criatividade e imaginação.
Muitas vezes faço uma reflexão sobre onde é que tudo começou. Considero que começou bem cedo, na altura em que me ceifaram a curiosidade, me calaram a opinião para me impor o que desejavam que eu fizesse o que pretendiam. Mesmo em silêncio fui cultivando o meu saber simples, atenta ao quotidiano da vida. Já em jovem, algumas colegas admiravam-se da minha produtiva criatividade.
Recordo que, depois do fascínio pelas quadras e sonetos, sonhava ser escritora de novelas, por adorar ver as da televisão. Registava o argumento com perícia, criando os atores da peça televisiva, mas sempre com um fundo dramático. Ainda conservo esses guiões, que hoje considero ridículos, pela sua simplicidade de enredo, mas talvez tenha sido esta experiência de escrita que me orientou mais tarde para a forma como admiro entrelaçar história e usar analepses e prolepses na narrativa.
Teria que haver um clique, um mote ou motivo para me dedicar com intensidade à escrita. E esse tema aconteceu tragicamente com os incêndios de 2 e 3 de agosto de 2003. Era sério, mas os meus olhos viram o inferno e eu tinha uma missão: escrever como o vira.
Assim que iniciei o processo de escrita senti uma emoção imensa que, por ser tão real e dura, me emocionava a escrever. À medida que aquele conto avançava rapidamente, sentia que registava os passos da narrativa com uma ligeireza que parecia ter já experiência de longos anos. As palavras libertavam-se com uma rapidez assustadora e eu descobria-me a mim mesma.
De 2004 até 2010, entretive-me a escrever artigos de opinião para um jornal e ganhei prática para emitir pareceres, mesmo que de carácter político. Em 2010, em poucos meses, tive necessidade de escrever algo mais grandioso, mas com a intenção de guardar os registos na gaveta. Registei em 2011 três manuscritos, O Trilho da Rata Cega; os dez contos que constituiriam Histórias Sem Idade e um outro suposto romance, que não revelo o título. Para mim, eram testemunhos de uma mulher madura que sonhava ser escritora. Obviamente que estes romances e esta coleção de contos, foram alvo de muitas revisões e organizações alteradas da sua estrutura, mas foram registadas naquele ano com a garantia ou o projeto de as usar para participar em prémios literários. Parecia que me adaptava a todos os géneros literários.
Desde então o vício não cessou. Publico em 2011, 2014, 2017, 2018 (dois romances) e preparo-me para editar mais uma obra guardada durante anos e acrescentada e estruturada de maneira diferente. Nos intervalos dediquei-me a escrever poesia, conto, e histórias infantis (seis), que espero um dia publicar.
Existe contudo um romance inacabado que comecei inicialmente, mas que me exige tempo para terminar e conjeturei transformá-lo numa peça teatral, aliás, já comecei essa transformação.
Portanto, leitores, a criatividade e os sonhos que estiveram aprisionados durante vários anos e que marcaram a minha juventude, serviram para me dar um certo dom para escrever. Certamente agrado a uns, a outros nem por isso, mas podem ter a certeza que tenho tentado ultrapassar todas as dificuldades que se me impõem, algumas exteriores a mim, mas continuo com a mesma força e versatilidade do iníco da caminhada. Entrego-me muito empenhada aos meus projetos para dar corda ao meu sonho de ser escritora. Mas as barreiras são inúmeras e, qualquer um, já teria desistido.
Esta história de dezasseis anos, garantidamente, daria uma grande história!
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