sexta-feira, 4 de outubro de 2019

A exposição da violência trava a felicidade das pessoas

     Somos invadidos diariamente por notícias, provenientes de vários meios de comunicação, de uma violência tremenda, assustadoramente medonha, e é tão pouco racional, que nos fazem lembrar tempos primitivos em que o Homem não tinha a mínima noção do valor da vida, ou melhor, ou matava ou morria, fosse para se alimentar ou para sobreviver, sobrepondo-se por alguma posição social hierárquica.
      Alguns especialistas poderão antever que esta violência entre as pessoas se deve a este ou aquele fator, à realidade cultural ou social da pessoa que comete o crime, ao excesso de stress diário, e a outras situações como: a não aceitação da perda, da culpa, à solidão, à doença, etc. Verdade é que, cada vez mais, os crimes são mais horrendos e irracionais. As pessoas julgam que, ao cometê-los, passarão impunes ou à margem da lei, porque agem sem temer ser apanhadas, presas, mortas pelos agentes das autoridades. 
    O número de crimes de ordem sexual e de evasão do corpo de crianças ou de adultos aumentam cada vez mais na atualidade e o que é aflitivo entre membros da mesma família, ou dentro da família, como se as pessoas andassem louca e excessivamente carentes e sós, necessitando, por exemplo, de aceder à pornografia "barata" e "acessível" (infantil), naquele prazer hediondo de abusar de alguém mais frágil e submisso. É assim, mesmo que os chamados pedófilos supostamente devessem saber que podem ser "apanhados" em flagrante. Não temem, mesmo sabendo, que, quando em contexto de prisão são quase linchados lá dentro pelos colegas prisioneiros. 
     Também a exposição exagerada de violência, agressividade, de casos e casos reais, de não se esconderem da exposição visual os pormenores macabros dos crimes, as armas, as manchas de sangue, etc., de se pisar e repisar nos assuntos e situações dramáticas, acentuam e reforçam um pouco essa violência, tornando-a em algo banal. 
    Será importante discutir e analisar essas situações e alertar as pessoas para certos perigos, avisar o que fazer no caso de detetarem violência, por exemplo, doméstica, mas estar-se constantemente em busca de casos desses para ter audiências, exatamente à hora em que a família havia de estar sossegada a almoçar, é alarmante. Muita gente séria, honesta, de bem com a vida assiste a estes momentos televisivos ou vê as reportagens, mas há imensa gente com alguma instabilidade emocional, a viver dramas pessoais e familiares a ver tudo aquilo e, encontram ali "coragem" ou um "incentivo" para tomar decisões precipitadas. Sabemos que há pessoas sós, que "adoecem mentalmente" sem terem noção disso e são levados quase inconscientemente a entrar por caminhos que podem levar à prática de crimes.
     Vivemos atolados de imagens de violência e de crime por todo lado e, de tal forma isto é preocupante porque começamos logo por deixar as crianças expor-se bem cedo a essa violência. É vê-los felizes e excessivamente animados ou revoltados nos seus jogos de vídeo ou Playstation (que ainda não deviam ter permissão para jogar), falar com a mais rude das linguagens, com os mais violentos gestos, para com um monitor. E, na vida real, cá fora, na escola, reagem sem respeito a qualquer tipo de regras.  No futuro veremos o efeito de toda esta exposição assim tão acessível a crianças no desenvolvimento de certos tipos de comportamentos e atitudes.
     A exposição a tanta violência diariamente acaba por condicionar e influenciar a nossa felicidade, quer queiramos, quer não. Por muito que nos queiramos distanciar os casos eles entram nos nossos pensamentos e ocupam-nos tempo, tornando-nos mais melancólicos. 
      
     

quinta-feira, 26 de setembro de 2019

O reconhecimento dos leitores

Foi no passado sábado, dia 21 de setembro, que subi ao palco do auditório Ruy de Carvalho em Carnaxide, na Gala dos Autores, para receber um segundo prémio na minha atual editora, a Cordel d' Prata, na categoria romance pela minha obra "O Trilho da Rata Cega". 
      O dia muito chuvoso fazia-me prever algo negativo, quiçá a derrota, mas, bem lá no fundo do meu coração, ainda residia a esperança. Tinha plena consciência que seria difícil voltar a vencer, dado que a 11 de novembro já havia recebido o Prémio Melhor Obra 2018. No entanto tinha fé, uma fé muito escondida no meu coração, porque os familiares, os amigos votavam diariamente. Inclusive um grupo de colegas autores votavam no meu livro, tal como eu votava no deles. Estava tudo em aberto, mas essa concorrência bastante cordial e parceira naquela votação era fiel e verdadeira.
      Havia feito o trabalho de casa, preparando o discurso em papel, mas durante os dias que antecederam a Gala dizia para mim própria: "E se perder? E se desiludir as pessoas que votaram em mim? Vou-me sentir péssima!" E insisti publicando quase até à exaustão num apelo constante à votação para não desiludir ninguém nem a mim mesma. A atenção e a confiança dos leitores, familiares e amigos eram maiores do que a minha. Muitas vezes me asseguraram: "Vai vencer. Claro que vai vencer!" E eu retorquia: "Não sei. Não será fácil um livro vencer pela segunda vez." As certezas das pessoas eram muitas, mas deviam estar equilibradas com as minhas dúvidas.
      A tarde da Gala chegou e o meu nervosismo misturou-se com sorrisos, beijos e abraços, tentando fazer-me mais forte do que na realidade me sentia. 
  O título da obra vencedora na categoria romance foi anunciado e eu lá embasbaquei mais uma vez com as palmas. "Venci!" - gritei, surdamente. Um misto de sentimentos assolou-me à mente. As vozes pequeninas na minha cabeça, à medida que me aproximava do palco, repetiam: "Venceste, mulher! Como é possível? Outra vez? Agora tens a parte do discurso! Lá te vais enervar outra vez de voz entrecortada e aos solavancos! Ainda por cima és a única que levas papel! Que hão de pensar? Que sabias que ias vencer? Mentira! Nunca soubeste! Nem adivinhaste! Ninguém te disse! Apenas fizeste o teu trabalho de casa! Se a editora te tinha avisado e aos teus colegas que tínhamos que levar discurso preparado… Gostaria de falar de improviso, saía tudo mais natural e autêntico. Assim vai parecer uma encenação certa e direitinha! Queira Deus que a colega que vieste representar vença, para leres o discurso dela, senão vai ser mau! Se ela vencer, tiras a túnica e os óculos para pareceres outra! Vais andar às apalpadelas! Vamos a isso, Paula Araújo! Vais conseguir subir a este palco sem te espetares no chão! Jesus, tanta luz, não vejo nada!" 
     Cheguei ao palco e o apresentador apelava a um discurso curto e eu levava um camião de palavras. Teria que me apressar, mas os meus nervos não me deixavam. Acelerei o que pude. Daquele lugar agradeci não ver o público com tanta luz. Sinceramente não sei como vi as letras, mas havia tido a feliz ideia de colocar os carateres a Arial tamanho 14. O apresentador ao meu lado olhava para a dimensão da minha composição. Parecia mais aflito do que eu para terminar. Julgo que tinha a ver com a duração do direto. Não li o último parágrafo. Voltei ao meu lugar com uma imensa vontade de chorar e de beijar aquele troféu. Beijei-o na escuridão, confesso. Tinha-o ali nas minhas mãos e tê-lo era o reconhecimento que o meu público, familiares, amigos, leitores em geral, gostavam de mim, me apoiavam e me acompanhavam sempre nestes desafios. Sentia-me tão grata por tudo isso. 
    Um livro dá muito trabalho a escrever, mas esse trabalho é compensado pelas manifestações de carinho e de apoio das pessoas que acreditam que temos valor. E quando o mesmo livro nos permite o alcance de três prémios, sentimo-nos orgulhosas por termos amigos assim. 
    Os três troféus estão comigo, mas eles são de todos os que me apoiam. Foi o meu público que me possibilitou recebê-los. Para mim são mesmo três e simbolizam o amor, a amizade e o companheirismo. 
    Muito obrigada a todos pela confiança demonstrada mais uma vez por mim! 

     

quinta-feira, 12 de setembro de 2019

Pais ou estudantes?

   
Nesta altura há milhares de jovens a entrar no ensino universitário. 
Constato que os números de hoje em dia equilibram a entrada de rapazes e raparigas no ensino universitário à procura de uma carreira e de um possível futuro, mas ainda há quem opte por não continuar a estudar e decida ir trabalhar. Não é que não se precise de renovar o mundo laboral, em que os mais velhos se reformem e os mais novos ocupem o seu lugar, mas é a escolha ou a opção que se é obrigado a fazer, por motivos económicos ou simplesmente porque se quer começar a receber dinheiro, ou até a urgência de se constituir família.
         Para outros, a opção de não continuar a estudar é bem pensada e desejada, porque o seu pensamento e percurso na escola, já previa esse desfecho ou essa concretização. 
        E ainda há outros jovens que pela sua imaturidade e não perceção do que desejam seguir, que tipo de curso pretendem, ficam numa espécie de "gap year", fazendo part-times aqui e ali, sob a desculpa de não saber bem o que anseiam estudar.
       Conheço rapazes e raparigas que, por opção entram logo no mundo do trabalho e, poucos anos depois, se tornam pais e mães. Uns, fazem uma boa opção, outros não. Acredito que alguns tenham perdido uma boa parte da sua juventude para se entregar ao mundo sério de uma família. Inevitavelmente entre eles há uma percentagem em que a vida não lhes corre nada bem. Será porque não tiveram maturidade suficiente para suportar as dificuldades? Porque não têm resistência perante os fracassos? Porque veem os colegas ir mais além e eles já carregam o fardo pesado de uma família, com poucas novidades? Porque se sentem frustrados, cansados, quando veem os outros no auge da juventude? 
      Existem mil e uma questões que nos ocorrem quando vemos a lista de colocados no ensino superior e não estão lá alguns, que escolhem outros caminhos, mesmo sabendo que a procura de um primeiro emprego não é fácil. Vão em busca de um garante económico e preferem receberem um salário do que esforçarem-se e o orçamento familiar dos pais, durante três ou quatro anos. 
       Ficam aqui estes apontamentos. Interessa que a opção tomada seja convicta e segura e que os torne realizados e felizes, sejam eles pais aos vinte anos ou estudantes universitários, longe de se preocuparem com a constituição de uma família - o importante é saber escolher um caminho certo para a concretização do seu futuro. 
(Imagem da Google)

terça-feira, 13 de agosto de 2019

Uma reflexão sobre palavrões

Hoje sai de casa a meio da tarde e passei por um espaço público, mais precisamente, por um jardim. Quatro ou cinco garotos estavam por ali sentados, de bicicletas encostadas, e, garanto-vos que ansiei que o vento forte levasse longe todo o palavreado que escutei entre eles. Tive que me conter para não intervir, mas refleti atempadamente e não o fiz, porque não era pai nem mãe deles, e a conversa não era comigo. Tinha a certeza que a conversa iria parar à fase do "bate-boca" ao ponto de os questionar o que estariam ali a fazer aqueles pré-adolescentes, ou melhor crianças, tão longe de casa.
Bem, voltemos aos palavrões… está-se a tornar moda comunicar assim para se ser aceite num grupo, sejam pequenos ou grandes. Já não há o mínimo de decoro, de respeito, mesmo que passe um adulto. Pelo contrário, quanto mais palavrões houver nas conversas, melhor.
Sei o quão é difícil travar esta vaga avassaladora, que se estende aos espaços escolares, à casa, entre os membros da família, sem se pensar verdadeiramente nela, como inadequada em certos espaços. Sei porque também tenho jovens em casa.
Alguns adultos pensarão que mais vale os jovens dizerem asneiras bem apimentadas, chamando filho disto e daquilo, a quem tem uma santa mãe ou pai, do que andarem para aí aos murros e pontapés, ou metidos em coisas piores e que estas questões de pudor, de respeito, fazem parte do passado. Isso é história de velhotes, que ficavam escandalizados e punham pimenta na língua de quem as dizia. Terão razão em algumas destas situações, porque a agressividade dos palavrões não se mede face à agressividade física, mas presenciarmos na atualidade cenas que não ficam nada, mas nada bem, que não se coadunam de forma alguma com jovens tão jovens, ou melhor crianças.
A maioria destes pequenos profere alto e a bom som aquelas palavras sem lhes dar uma intenção, um sentido, ou seja, o verdadeiro sentido delas. Aliás, a estas palavras foi-se igualmente atribuindo sentidos, consoante as situações e algumas passaram a ser entendidas como palavrões, quando não o eram.
Na verdade, os jovens são bombardeados com esse vocabulário nas séries, nos filmes, em programas da TV, no YouTube, nos jogos e vídeos que veem, daí que o usem excessivamente e com alguma intencionalidade, seja na escola, seja em casa, até com a família, seja em qualquer lugar, sem entenderem quando são alertados, ou chamados à atenção. Para eles, falar assim é a coisa mais natural e comum do mundo, então por que é que os censuram? Parece natural, mas não é. Não é normal que garotos tão novos utilizem este leque de vocabulário tão aprimorado, de "folhas, alhos e bugalhos" " de mandar à ...", como dizem outra coisa qualquer e que repitam dezenas de vezes, três ou quatro vezes as mesmas palavras numa frase, naquela necessidade de se sentirem "grandes" , quase adultos, por as usarem deliberada e libertinamente, sem que ninguém os chame à atenção para que não as deviam dizer. Riem-se da quantidade, outros ofendem-se e acabam ao murro. Falam assim e tão alto como o mundo fosse acabar e tivessem a urgência de vomitar esse palavreado quase obsceno, para se afirmarem perante os outros ou terem amigos só porque falam como eles. São duras realidades!
Meus caros, sabem por que é os adultos preferem o silêncio quando as escutam, mesmo que se corroam por dentro? Porque se poupam a ser enxovalhados.
É assim que está esta situação triste e lamentável perante esta moda galopante, mesmo que os pais julguem que lhes dão a mais exemplar educação!

O caminho que este romance podia ter percorrido

   
     Um livro percorre um caminho, que se pode limitar à existência física dele, a uma apresentação ou sessão de autógrafos e morrer nas prateleiras de uma ou outra livraria. Ou pode "fazer-se à estrada" e o trilho ser extremamente difícil e complexo, quando o autor se vê sem o apoio devido ou impossibilitado de fazer esse caminho.
    Assumo publicamente que o meu romance "O Trilho da Rata Cega" podia ter tido outra sorte, apesar da que teve. Logo no início, ainda mal tinha sido distribuído e apresentado na minha região, tive uma proposta, que foi apresentada a quem tinha o poder de encaminhar o seu trajeto e projeto para um grande sucesso, e não se obteve resposta.   
     Este livro, que, no fundo, é uma narrativa que retrata a história de uma região e de um país, podia ter sido um pequeno filme, ou um filme (spot) publicitário, aproveitando o cenário propício da história de um pequeno comboio, ou muito mais do que isso. Houve alguém que entusiasmado com o enredo do livro, que lhe ditava os tesouros das suas memórias, predispôs-se a ajudar-me, a apoiar-me para dar os passos para a concretização de um projeto. Infelizmente, esbarrou com a falta de respostas e de dinâmica para encetar o caminho. Foi-me igualmente sugerida a possibilidade deste livro percorrer o país no Comboio Presidencial, e mais uma vez faltaram respostas.
     O romance pelo qual tanto tenho lutado podia fazer parte das estantes das livrarias a nível nacional, e eu tentei colocá-lo por aí nas Feiras do Livro, nas escolas, até ao momento em que me esgotei, quando compreendi que o meu esforço era um pouco em vão, quando me vi sem livros para caminhar. 
   Os prémios dão-lhe o reconhecimento, mas mais reconhecimento teria se estivesse fisicamente nas livrarias estratégicas, as mais importantes do país. Não seria certamente o título que afastaria os leitores de uma leitura da sua sinopse e aí compreenderiam o motivo desse título. Não seria o facto de não ser publicado por uma editora fora do grande círculo de grupos editoriais. Não seria por mim, pela pessoa que sou.
     E agora aí está mais uma nomeação para a Categoria Romance na Gala de Autores da minha editora a decorrer até dia 31 de agosto. Sei que os leitores estão a votar, não pelo facto da maioria já ter lido o romance, que, realmente, não leu, apesar de se ter manifestado que gostaria de o ter lido, mas, julgo que votam por mim. Muito agradeço por isso e ponho-me a imaginar, se as centenas de pessoas que votaram em mim para a Nomeação do Melhor Romance 2018, tivessem podido adquirir o meu livro, hoje seria quase um best-seller
      O apoio dos leitores é já a minha vitória, mas seria fantástico que algumas das promessas que se perderam pelo caminho sem resposta, se concretizassem. Aí sim, este livro escrito com muito investimento e empenho meu, concretizaria todos os meus anseios.
       Votar no meu livro para esta nomeação é reafirmar o seu valor e a importância de ele chegar mais longe, mais além, às mãos dos leitores, ou à leitura dele online em formato e-book
        Muito obrigada a quem me continua a apoiar, votando. Estou agradecida de coração a todos, porque afinal são os leitores que fazem o sucesso de um livro.  

terça-feira, 16 de julho de 2019

A escolha dos blogs literários

    Resultado de imagem para blogs literáriosEntretive-me a pesquisar alguns blogs/ blogues literários portugueses e brasileiros disponíveis na Internet e fui colocando o título do meu romance de época/ histórico publicado em março de 2018. Imaginei encontrar uma crítica fundamentada e apreciativa dele, mas infelizmente não existe. Alguns fazem a ligação para páginas de venda online, o que já é positivo. A maioria incide em obras de sucesso, de autores conhecidos ou premiados nacional e internacionalmente.
     Fiz uma reflexão sobre isto e cheguei à conclusão óbvia que raramente um livro em edição de autor, em coedição com uma editora (vanity), consta nos sites (sítios) desses blogs literários. Aparentemente será porque é considerado um livro pouco comercial, quiçá de qualidade duvidosa, ou por outras razões como, não ser editado num grande grupo editorial, não ter uma grande máquina de marketing e publicitária que quebre as barreiras do imaginário sucesso para ter direito a uma crítica literária e para figurar nesses blogs
     É extremamente raro que um autor desconhecido do público leitor seja posto à prova por críticos e a capa do seu livro figure num blog. Que surja do nada e esteja ao lado daqueles que já conquistaram uma posição confortável no mundo da literatura. 
    Considero-me assim um pouco sortuda porque sem fazer absolutamente nada para alcançar um blog literário com um livro meu de 2014, já tive o privilégio de o ver analisado por um crítico, não obstante ser em coedição com uma editora. A crítica foi bastante favorável e, sinceramente, fiquei a aguardar que esta obra que considero satisfatória, fruto de um trabalho imenso, não tivesse tido a sorte de ser avaliada ou analisada. Confesso que fiquei a aguardar a concretização de promessas. 
     Agora arrependo-me completamente de não ter enviado o meu livro para o crítico para que fizesse a leitura atenta e desse a sua opinião, fosse ela qual fosse. Observaram centenas de títulos nos blogs, de qualquer género literário, que tiveram a oportunidade de constar, com direito a sinopse e a crítica, e ficar sem saber se afinal o que escrevo tem alguma qualidade, é frustrante. Os leitores também se inibem de tecer opiniões publicamente na página da editora, em outros espaços ou meios literários, ou porque se acanham, ou porque não querem ajudar o autor a melhorar ou a continuar, ou nem se dão a esse trabalho. É normal que hoje em dia isto aconteça. 
     As opiniões de um blog são quase sempre produtivas e motivadoras para os leitores  e têm um excelente efeito nas vendas e no eventual sucesso do livro. Se forem publicadas atempadamente poderão produzir um efeito muito eficaz.
   Garantidamente, o próximo livro que publicar, assim que o tenha em mãos, seguirá para alguns críticos literários. 
    Uma autora como eu, que tenta construir um caminho com algum reconhecimento, que paga as suas edições no todo ou em parte, não pode ficar à mercê que façam ou queiram fazer o seu sucesso. 

sexta-feira, 12 de julho de 2019

Dias, meses e anos de entrega

      É necessário imenso tempo para construir uma obra. Entregamo-nos de corpo e alma à elaboração de um enredo, das personagens, da pesquisa nas fontes bibliográficas, etc., etc.
    Envolvemo-nos de tal forma nessa construção que, quando nos apercebemos, já somos personagens da nossa história, aliás, quer queiramos, quer não, a nossa obra está impregnada de nós. Há sempre uma ou outra que tem caraterísticas nossas.
     A sua criação é um ato de coragem, de desafio permanente, que nos põe à prova constantemente, tanto na sua conceção, ou na tentativa de a ver publicada por uma boa editora, ou até na esperança que vingue pelo país, motivando o entusiasmo e agrado dos leitores, e que prolifere pelas livrarias, nas Feiras do Livro, nos sites e blogues literários.
      Sentimo-nos enganados, abandonados, quando todas aquelas expetativas que encetamos, ou que criamos na nossa cabeça, resultando de uma exigente entrega a essa obra, não ficam à altura do trabalho que tivemos com ela. Todos aqueles dias, meses e anos, em que lutamos para tornar a nossa narrativa num livro físico, não são compensados devidamente. E aí a culpa dessa desilusão morre sempre solteira. Nem adiantará muito expor a questão de ganhos com direitos de autor nesse descanto, porque todos sabem que são exíguos, quando existem.  Refiro-me aos lucros em termos pessoais, o facto de nos sentirmos felizes com aquilo que fazemos através do nosso livro. Aquele prazer indescritível de sentirmos o nosso livro é útil ou promove o gosto de quem o lê. Aquela alegria de saber ou de o ver pelas livrarias que visitamos, que sugerimos aos nossos amigos ou conhecidos, podendo anunciar sobre este ou aquele espaço. A motivação que as atividades nos dão, quando as desenvolvemos e o que produzimos nos outros e em nós próprios, tornando-nos o centro produtor da leitura e da escrita. 
    Portanto aí iremos considerar todo o tempo dispensado, ou dinheiro investido na produção da nossa obra, bem empregue. 
     Lamentando ferir algumas suscetibilidades, sinto que há muitos escritores e artistas que partilham a minha opinião, e connosco está a opinião pública informada que se interessa por estas questões e que nos vai apoiando e nos mantém a esperança.
     
    

segunda-feira, 1 de julho de 2019

Aqui nos confessamos, REDES SOCIAIS!

   Resultado de imagem para rede socialVivemos num mundo em que as pessoas cada vez mais experienciam momentos soturnos de introspeção, no isolamento dentro da sua própria família, da sociedade, na verdadeira ausência de comunicação cara a cara, também no seio familiar, apesar de estarem constantemente nas chamadas "redes sociais" e nos "chats". Hoje em dia, muitas pessoas sentem-se quase incapazes de aceitar a negação, a realidade dura do dia a dia; em suma, às voltas por vezes árduas da vida. As pessoas são tentadas a apelar aos outros para os ajudar a suportar o desespero em que vivem. 
     Vive-se num silêncio assustador dentro das suas próprias casas, à mesa com a sua família, olhando para um telemóvel e vendo todas as novidades das publicações da vida dos outros. Luta-se para mostrar que as suas vidas são melhores do que as dos amigos virtuais, ou reais. 
   Se ainda nos conseguimos distanciar desta realidade atual ou estamos imunes aos efeitos devastadores da intromissão na privacidade pessoal, observamos provas concretas em como as pessoas estão sós, apesar de terem centenas de amigos virtuais. Sentem necessidade de expor a sua vida, de confessar os seus medos, as suas angústias, os seus cansaços para aquele leque de "amigos", sem preverem a dimensão dessa exposição. 
    Há casos e casos de pessoas que aproveitam as redes sociais para apelar, para alertar, para pedir ajuda, para chamar sobre si a atenção, para confessar ódios, para ameaçar ou para confessar sentimentos e revoltas.  Enfim, as redes sociais tornaram-se autênticos locais de confissão, onde a vida se escancara de portas abertas, de uma forma gratuita. Locais onde se buscam "carinhas" e números de gostos e de visualizações. Espaços onde praticamente tudo se faz e se diz sem limites, por vezes, com verdadeiras ofensas à integridade pessoal. Espaços que estão disponíveis para as crianças pequenas, que, aliás, estão expostas através de fotos, tendo elas próprias entrada nas "redes". 
     Nas confissões expostas nas redes sociais apercebemo-nos que há pessoas que estão muito abaladas, infelizes, com pensamentos muito negativos devido a circunstâncias penosas da perda de alguém ou de separação e tentamos ajudar, comentando e convencendo-as a ter coragem e esperança. Porém sentimos que também entramos neste jogo de expor ou julgar a vida dos outros, sem a conhecer, simplesmente porque tentamos auxiliar, quase numa missão heroica. Sentimos quase o dever de colocar lá a carinha triste ou de fazer um comentário solidário. 
     É viciante este jogo do "aqui nos confessamos diariamente, redes sociais" ou " aqui postamos fotos e fotos, mudando perfis e capas, escrevendo comentários e comentários" para que tenhamos visualizações e os nossos amigos virtuais não se esqueçam de nós. Entramos neste jogo às cegas, sabendo conscientemente que muita gente vê o que publicamos, mesmo que não reaja, e julgamos que as redes nos ocupam o tempo, as horas e os dias, que são os nossos diários. Esquecemos de aproveitar o tempo para viver, longe destas formas meio manipuladoras de consciências. Investimos tudo nelas para nos sentirmos "acompanhados" ou "falarmos", quando, na verdade, estamos cada vez mais sós e incapazes de enfrentar a recusa, a negação, o esquecimento, ou de encarar os outros para encontrar soluções ou caminhos diferentes pelo diálogo. 
    Acabamos por estar numa cilada complicada quando vivemos de e para as redes sociais. 
     A vida vai muito mais para além destes novos mentores orientadores e manipuladores de consciências e de vivências do quotidiano! A vida não se deve atirar para as redes sociais! A nossa vida tem que sair delas, se proteger da exposição, para se construir com felicidade e ser só nossa e não partilhada excessiva e mecanicamente com os outros, digo, aqueles que são apenas "amigos virtuais". Devemos cultivar as amizades reais e puras, porque com essas podemos conversar e encontrar o apoio e o caminho real da vida.