quarta-feira, 20 de março de 2019

Uma taça de morangos

Resultado de imagem para taça de morangosOlho feliz para uma taça de morangos e depois deleito-me com a frescura e a doçura deles. 
Suspendo a sobremesa com as notícias do diluvião em Moçambique e os contornos de toda a tragédia, que ainda não terminou e está longe de terminar. 
Anunciam-se doenças gravosas, mais feridos e mortos. Há Portugueses desaparecidos, perdidos na fúria dos ventos e na tromba das águas. Há centenas de outros países na tragédia. 
Mia Couto lamenta ver o seu país arrasado. O país poético do encanto da sua escrita.
Engulo os morangos e perdem o sabor doce. Quem me dera reparti-los por todos aqueles que, naquela tormenta, não têm um naco de pão, um pedaço de terra que pisar, uma casa que os abrigue!
Engulo os morangos em soluços. 
Pouco posso fazer para além da solidariedade. Mas há milhões no mundo que podem - os que esbanjam tudo o que têm - esses sim podem mandar morangos frescos para estes povos. 

segunda-feira, 18 de março de 2019

O vício dos Prémios Literários

 Resultado de imagem para concursos literáriosConfesso que sou um pouco viciada em Prémios ou Concursos Literários e, cada vez, que procuro no site da DGALB ou nos sites das Câmaras ou Bibliotecas Municipais, questiono-me de onde nasceu este vício. Sinceramente, meus caros, é a tentativa de um dia a "sorte" me sorrir. 
      Comecei em 2011 com o Prémio Literário Leya e ainda concorri a este prémio mais um ano, mas, daí em diante, é raro o ano que não concorra ou a romance, a conto, a poesia, a conto infantil ou juvenil, com o intuíto de tentar conseguir a oportunidade de ouro. Dizem os entendidos que vencer um prémio, não é garante de nada, nem de sucesso, mas que me perdoem, para mim seria, se acontecesse. 
      Ano após ano, prémio após prémio, recebo a desilusão e dou-me ao luxo de investir dezenas e dezenas de euros em impressões, capas, despesas de correio. Tal como eu, centenas de autores concorrem e, entre eles, autores consagrados, com obras publicadas pelas grandes editoras. Coincidência ou não, na maioria dos concursos literários, vencem. Aquilo que escrevem deve ter sempre boa qualidade que, o júri, atribui-lhes o prémio.
     Outra coisa que não entendo e, que me desculpem os autores brasileiros que têm mérito para vencer aqui em Portugal em alguns concursos, porque é que se eu quiser concorrer a um concurso literário brasileiro tenho que pagar? Compreendo que os autores participem em massa nos nossos concursos literários se são gratuitos, mas porque é que não posso fazer o mesmo em relação aos do país irmão? 
      Procurando concursos literários de lá deparo que a maioria se circunscreve aos nacionais e aqui aceitam-se autores cuja língua seja o português. 
        Ainda há outras modas que pegaram recentemente e que limitam imenso a participação de autores em prémios literários, a idade e o não terem obras publicadas no género. São vários os concursos que delimitam a participação até aos 35 anos, como se fosse a separação entre o jovem e o idoso. Questiono-me sobre a implicância e a pertinência desta idade no mundo editorial, e o que isto significa. Quererá significar que um autor de 36 ou mais, não será capaz de produzir trabalho criativo? Poderá isto significar que é mais justa a atribuição a um jovem autor? Ou que se pretende "sangue novo", e que, no fundo, é o mesmo que "não ter obras publicadas? 
        Apercebi-me que dois Grandes Prémios Literários nacionais tiveram que alterar o regulamento à pressa, pois corriam o risco de não ter participantes. Há até casos em que os prazos da receção de trabalhos se têm que alterar para se dar uma certa grandiosidade ao prémio, e não se cingir uma dezena de participantes. 
         É imenso o número de Concursos Literários e Prémios para obras literárias publicadas, com grande incidência na Poesia. Também me questiono qual a razão de se atribuir milhares de euros a autores de obras já publicadas. Na verdade, nunca os direitos de autor alcançarão tais verbas, mas verificamos a lista de concursos em certas alturas do ano, onde metade ou mais é dedicada à poesia, ou a obras publicadas... Evidentemente que neste leque, uma obra publicada em edição de autor ou por uma editora vanity, não terá a miníma hipotese, daí que eu esteja fora desta competição. Não adianta mesmo enviar 4 ou 5 exemplares que vão ser postos automaticamente de parte. 
        Enfim, o que me move a concorrer de vez em quando, não é pelo prémio chorudo em dinheiro, mas pela vontade que tenho em tentar que seja uma das vencedoras de um Prémio Literário. Esta é uma Missão Impossível, porque julgo haver algo estranho na atribuição de alguns prémios, mas enquanto se mantém a esperança, não acabarei com este vício.
       

quinta-feira, 14 de março de 2019

A falta de paciência e as vontadinhas

De manhã estive num local público, perdida por lá duas horas, o que me permitiu observar algumas situações familiares criticas. Curiosamente, estava uma mãe ainda jovem com uma filha adolescente, uma irmã com cerca de dois anos e, ao colo uma bebé de quinze dias.
     Com o tempo de espera, a criança do meio acabou por ficar rabugenta, andando de um lado para o outro, e, para a calar, a mãe, alto e a bom som, ralhava com ela, como se fosse adulta "a menina está a deixar a mãe aborrecida", "está habituada a que lhe façam as vontades, mas comigo não é assim" "chore, chore à vontade que eu não vou fazer nada", "pode deitar-se no chão à vontade, que eu não a vou levantar", "a mãe está muito desiludida com a menina" e, a criança esponjava-se no chão aos gritos, para chamar à atenção.  
      As pessoas olhavam sem poder fazer nada perante os gritos da criança. Ainda me levantei para apanhar papéis à mãe, que caíram com a atrapalhação e aproveitei para fazer uma macacada para fazer a criança parar de chorar, mas não adiantou; a criança estava mesmo sentida, não sei se pela falta do telemóvel, que a mãe dava e tirava, ou se pela falta de atenção e de carinho.
      Lá se calava por momentos, mexendo no aparelho e a mãe, com a bebé ao colo, dizia: "é só para se calar, menina má. Está sempre com a birra, quando não dorme!" Tirava-lho quando ela começava a mexer e fazer sons, e a criança gritava. 
      No momento em que a mãe foi atendida, a criança lá foi atrás dela, chorosa, mas ela sempre a repreendê-la, para toda a gente ouvir. A criança estava num stress enorme e a mãe sem a conseguir calar. 
       Meus caros, "nem tanto ao mar, nem tanto à terra". Está certo que não devemos fazer as vontades às crianças, e habituá-las desde pequeninas a saber que não, é mesmo não, mas expô-la publicamente com uma rispidez e falta de atenção e carinho notórias, é grave.  
      Durante mais de meia hora a criança gritou a plenos pulmões, pedindo mimos, que a mãe não podia dar, porque tinha a bebé ao colo. Entendia que era com aquela conversa de adulta, ao chamá-la má e culpá-la da sua desilusão, ou melhor da "vergonha", que a pequenita lhe estava a causar, dando-lhe o telemóvel de mau modo, que a ia conquistar e fazer calar. Não!
      A bebé de colo mexeu-se e ela beijou-a na testa e na boca, perante a outra, que chorava, e disse bem alto, "a menina não vai ser assim tão má como a mana, pois não?" Caros leitores, julgo que uma e outra criança mesmo que não sejam más, tornam-se. Até uma com a outra, na disputa pelo afeto da mãe.
      Esteve muito mal a senhora e afirmo aqui que se o calvário continuasse e houvesse agressão física à criança,  eu ia chamar as autoridades. Estava incrédula com tanta falta de paciência da mãe, de atenção, observando o cenário e refletindo sobre ele. A menos que a mãe estivesse em situação de stress pós parto, que é natural, aquilo não era forma de falar ou educar uma bebé de tenra idade. Até consigo antever que, a continuar assim, aquela mãe terá certamente um dia destes problemas com justiça, e a criança terá problemas de afetividade.
          Estranho é o facto de que, sem o mínimo problema, esta senhora estava a protagonizar estas cenas com toda a frieza e rispidez para com uma pequenina, perante um considerável número de pessoas, e provavelmente num local com vídeo vigilância em pleno edifício das leis.
         O que pode um comum cidadão fazer numa situação destas? Nada. 
       O que podiam os funcionários ter feito? Não a fazer esperar e atendê-la imediatamente, já que tinha uma recém-nascida ao colo e a outra pequena, que não sossegava. 
      Sinceramente espero que aquela mãe se consciencialize que tem que se acalmar e  tentar saber gerir os conflitos e as situações em família, de modo que não se exponha tanto, como o fez. Deve tentar dar afeto à pequena, ou melhor, às pequenas por igual. 

quarta-feira, 13 de março de 2019

Terminamos de escrever um original...e depois?

Resultado de imagem para editorasQuando terminamos uma história, seja um conto ou um romance, e temos vontade de a publicar em suporte papel ou online, coloca-se um grande dilema - a quem vou enviar o meu original?
     Procuramos emails de editoras nacionais, e entre elas, as vanity, com o intuito de enviar parte do nosso manuscrito, acompanhado de uma sinopse e a nossa bibliografia.  Tentamos, sempre com a esperança que, um dia, a sorte nos possa sorrir, mas com o desalento que, enquanto isso não suceder, teremos que desembolsar bastante para editar o nosso livro.
     Sinceramente custa muito ver como alguns escritores ascendem no panorama literário, aparentemente sem o mínimo esforço. Outros há que, apesar de alcançar tops de vendas, sofrem tanto quanto os desconhecidos para garantir o seu "sustento" da escrita.  Afinal acaba por contar a qualidade da sua escrita, os prémios que conquistam, o número de vendas, as sessões e as dinamizações que fazem pelo país, uns por conta do grupo editorial que representam, outros não. 
      Que o panorama não é favorável, não é! Que existe uma enorme competição e concorrência, um marketing quase agressivo dos livros com potencialidade para best-sellers e, mesmo que haja alguma tentativa de um grupo mais pequeno de editoras que tenta liderar o mercado, acaba por se cingir a um público mais restrito e não abranger o todo nacional. No entanto parece haver lugar para todas as editoras e mil promessas de sucesso e de boas vendas para os escritores. Uns conseguem invadir o universo literário nacional e internacional, outros não. Se é pela qualidade da sua veia literária, se é pelo número de livros com boas vendas...alguma coisa é que os torna "nomes e rostos célebres". Vemos esses rostos e questionamo-nos: "Será que algum dia consigo ter um nome reconhecido?" Provavelmente não, mas tentamos, com todo o nosso empenho.

segunda-feira, 11 de março de 2019

Quando as frases fazem sentido...

    As frases podem não fazer sentido para quem as lê, mas para quem as sente como suas, certamente fazem. 
     Quando penso numa frase, num pensamento sensível, é quase intuítivo, e, na maior parte das vezes, também tem toda a pertinência para mim. Por exemplo, esta frase, no momento em que a escrevi, não me sentia particularmente revolta, mas com algum desconforto em relação a algumas decisões que me ocuparam a cabeça, e a única forma de me sossegar foi mesmo a entrega a pensamentos e a palavras. Enquanto me refugio na escrita, por muito curto que seja o texto, sinto-me bem e muito mais feliz. 
     Pretendo igualmente alcançar objetivos com esta missão de frases, que faço expelir de mim, acalmar os que as leem. Francamente, sinto que há muita gente que precisa escrever como eu, para se sentir melhor. Gente que guarda para si esse "mar revolto" e que vai acumulando essa "raiva" surda, e chega a um ponto que já não aguenta mais. 
    Eu, como a maior parte das pessoas, tenho os meus segredos, situações que me magoam imenso, mas conseguir resumir numa frase o que sinto e, através dela, conseguir "curar-me" de maus pensamentos, é fantástico. 
     Para mim, a escrita tem um efeito curativo e, sinto que para algumas pessoas, ler uma ou duas frases com as quais se identificam, acaba por sarar, por momentos, um pouco as "feridas" do dia a dia, e algumas, de anos.
      Não pensem que as frases que escrevo nas redes sociais me dizem respeito, mas poderão dizer tudo a alguém, que sente fragilizado. Como escritora tenho esta perceção que se torna sensível e próxima de quem vou acompanhando. 
      Os pensamentos, em forma de frases, podem não significar absolutamente nada para alguns, mas são muito relevantes e emocionantes para outros. 
       Alguns julgarão estranho e farão juízos de valor sobre a minha vida pessoal, julgando-me a pessoa daquela frase, mas, na verdade, não é assim. Tento acudir a quem precisa de ler aquela frase ou reflexão. Presto um serviço, que se pretende útil para quem sofre, que se quer positivo e de esperança. 
        Quando é que as palavras fazem sentido? Quando são sentidas. É preciso "acalmar as ondas" de um mar revolto, com palavras, com ações brandas, que tornem as pessoas mais felizes e pacíficas.

     
     

quinta-feira, 7 de março de 2019

Santos da casa, não fazem mesmo milagres

Resultado de imagem para santos da casa não fazem milagres
   
    A utilização desta frase de cariz popular, leva-me a refletir sobre a falta de apoio da sede do meu concelho, na divulgação do que vou escrevendo e publicando. Já constatei que não sou a única autora, artista, que sinto isto, mas permitam-me um pouco de egoísmo. 
    Até ao momento tenho seis livros publicados, umas seis antologias onde participei, dezenas de diplomas de presença em escolas e Bibliotecas Municipais por este país. Não menciono tudo isto por vaidade, que vaidosa e petulante não sou.
     Sabem quantas vezes tive a honra de apresentar os meus livros ao público na Biblioteca Municipal do meu concelho? Duas vezes.  Apresentei Histórias Sem Idade e Salvador e a Talha da Felicidade. O segundo e o terceiro.
    Realmente, ao longo dos anos tenho-me questionado porquê. 
        Terá sido por trabalhar noutro concelho? 
     Terá sido por se julgar que sou de alguma vertente política diferente? 
       Terá sido porque não tenho o hábito de andar a pedir favores, coisa que detesto? 
       Terá sido por não ser da elite cultural e social da região?
       Terá sido...? 
Bem, foi por algum motivo, do qual não me deram conhecimento, mas, julgo que, principalmente, por não trazer agarrado a mim um conjunto grande de pessoas influentes, que puxam amigos de amigos e enchem uma sala ou um anfiteatro. Como não tenho tempo para estar aqui e além, neste e naquele evento social importante, isso acaba por me prejudicar e fazer cair no esquecimento.
        Por algumas vezes, alguém que coordena os eventos na Biblioteca Municipal concelhia me "apanhou" em atividades públicas e me disse que já tinha solicitado às suas "meninas" para me contactar ou à minha editora atual para uma sessão. Portanto, o "convite de boca" esqueceu-se. 
      Parece não ter ainda havido oportunidade para a Biblioteca Municipal do concelho, que teria público interessado, fazendo uma boa divulgação, com a minha ajuda incondicional, delinear o evento, contactar a editora, preparar tudo condignamente. Entretanto passou quase um ano do lançamento do meu romance e a oportunidade esfumou-se.
      Sabem, isto entristece-me muito. Nada melhor do que nos sentirmos acolhidos pelos nossos. Nada melhor do que os nossos nos darem as mãos para nos fazerem crescer. Não para enriquecer, não, apenas crescer. De um verbo ao outro vai uma grande diferença.
      Sinceramente sinto-me uma "estranha", porque afinal consigo correr o país e a sede do meu concelho, onde residi 22 anos, não me acolhe. Sinto-me posta de parte, esquecida. Não porque me considere alguma excelência no mundo da escrita, nem queira ser mais do que os meus colegas artistas, mas uma lutadora, sem dúvida alguma, isso sou. Se tenho livros para diversos tipos de público, são para apresentar, porque é para isso que os publico. 
         Não preciso ter sala cheia, preciso que a sede do meu concelho me receba, me acolha, me torne conhecida, me dê voz junto do público.
          Uma coisa é certa, ninguém, mas ninguém me vai ver pedir favores ou a passar a graxa, para ter direito àquilo que julgo ter. Nunca o fiz, e não é agora que o farei. 
          Sabem, amigos, este romance "O Trilho da Rata Cega", graças a Deus e a mim, tem tido sucesso e é uma pedra no sapato de alguém que me fez sonhar por um apoio e, passados meses, diria anos, me informa friamente, através de um oficio, que não apoiava obras de fundo literário. Afinal várias têm sido apoiadas financeiramente apesar de serem literárias, a minha é que não podia ser. 
        Há coisas que não esqueço, e, para além desta, não aparecer um representante camarário na apresentação do meu livro, apesar de terem sido convidados. 
         Afinal eu faço parte de um leque de escritores e artistas que contam pouco ou nada na sede do meu concelho, mas não será por isso que eu deixarei de continuar a lutar. 
       A velha máxima de que "santos da casa não fazem milagres", infelizmente é verdade. Quem me dera que não fosse, mas muitos outros interesses se levantam! Francamente esses não me interessam, o que me interessava mesmo é que olhassem para mim como uma filha da terra e não como uma bastarda perfilhada.

quarta-feira, 6 de março de 2019

O luto de 7 de março

A imagem pode conter: uma ou mais pessoas e texto 
      Amanhã cumpre-se um Dia de Luto Nacional pelas vítimas da violência doméstica e que posso mais acrescentar ao que escrevi sobre uma dessas vítimas. Pouco mais, que vá alterar o desenlace trágico que a sua história teve. 
      Que devemos estar todos atentos e alerta para casos que saibamos, devemos mesmo. É mais um dos nossos deveres cívicos para evitar que surjam outros casos. 
       Mas a marcação deste dia como o Dia de Luto Nacional pelas vítimas da violência doméstica, para além, da carga trágica das perdas de vidas que representa, tem para mim um sentido muito mais marcante. A escolha deste dia não podia ser mais triste. Foi escolhido exatamente o dia em que o meu irmão faleceu. O dia em que o perdi para sempre. Em que caiu da cama de um hospital lisboeta, num ato de neglicência, completamente desamparado, quando recuperava de uma doença. 
     Portanto, a seleção deste dia pode representar para todos a solidariedade para com as vítimas de violência doméstica, mas, para mim é também o reavivar da memória do luto do meu irmão.

terça-feira, 5 de março de 2019

A distância de Lisboa

    Ver a imagem de origem
    Estar distante de uma grande cidade, núcleo de atividades culturais diversas e de um considerável número de editoras ao dispor, são problemas reais para alguém, que auspicia tornar-se escritor reconhecido nacionalmente.
    Tenho sentido isto ao longo destes quase quinze anos, como uma grande limitação à resolução de algumas situações. A distância que me separa de Lisboa, condiciona em muito a evolução da minha carreira. Não é que não tenha conseguido passar por várias Feiras do Livro, Bibliotecas Municipais, escolas, etc., algumas fora da minha zona, que não tenha estado na Feira do Livro, numa FNAC de Lisboa, mas é difícil alcançar a capital, marcando eventos, porque está longe do meu raio de ação.
     Obviamente, que, atualmente, quase tudo se resolve via email, via vídeo-conferência, etc., mas, por exemplo, procurar uma editora, marcar sessões e workshops (oficinas de escrita) em grandes livrarias, é impensável no interior, mesmo que seja no interior centro. Acabamos por nos confinar a uma região, mesmo que essa região seja dinâmica culturalmente e não conseguimos explorar outros públicos nacionais, por causa da distância e do escasso investimento no marketing em prol do sucesso da nossa obra e do nosso nome.
    No caso do envio de uma proposta editorial para uma editora via email, a editora observa somente as publicações que temos numa curta bibliografia, o que não é suficiente. Atende imediatamente ao facto de sermos desconhecidos do grande público leitor. 
      Como é que então nos podemos tornar conhecidos se estamos distantes do núcleo citadino, onde tudo acontece? Para onde tudo converge? Melhor seria que pudessemos ir a uma entrevista e conversarmos pessoal e diretamente com o coordenador editorial; enfim, apresentarmos os nossos projetos. Infelizmente as coisas não funcionam assim. As editoras não recebem os autores, com as suas obras debaixo dos braços; as editoras têm centenas de propostas e têm muitos autores - ou temos a sorte de sermos apoiados por alguém, que nos encaminha para a pessoa certa na editora; que nos projeta nacionalmente; ou temos uma obra bombástica; ou continuamos a ser desconhecidos do público. 
     Podemos ter blogs, sites, rica ou pobremente construídos, que isso pouco importará, pois não havendo proximidade aos centros, aos núcleos onde existem oportunidades, será muito difícil que se consiga abrir a cortina. Claro que os custos que comporta essa distância também pesam na hora de nos decidirmos a aproximar ou a investir nessa aproximação, enquanto não vemos compensada monetariamente a nossa carreira de escritores. 
     Considero que a sorte estará do lado dos que, pelo facto de residirem perto de uma grande cidade, como Lisboa, conseguirão com maior facilidade impor-se no mercado editorial e trabalhar no sentido de construir um caminho para se tornarem autores conhecidos e famosos, os outros terão que esperar a oportunidade de oiro, quiçá toda a sua vida.
    

segunda-feira, 4 de março de 2019

A crítica literária a um livro meu...

Salvador e a talha da felicidade

  




Autora: Paula Araújo
Edição: Jan/2014
Páginas: 216
ISBN: 9789897361317
Editora: Edições Vieira da Silva


Salvador e a Talha da Felicidade é um romance juvenil, carregado de simbolismo, magia e mistério, em que o rio Douro testemunha o crescimento da personagem principal. Salvador, um jovem trabalhador e responsável de catorze anos, é o amparo da sua mãe viúva, Maria Flor. Assumiu o lugar do pai, que perdeu em tenra idade, e de uma forma inesperada experimenta a dureza de uma vida difícil, em que se dá valor ao trabalho na terra. A sua experiência árdua e sábia torna-o ávido pela descoberta do seu mundo.

O motivo do sonho inicial na Gruta da Vida irá levá-lo a partilhar grandes aventuras com os amigos, em busca do segredo da talha da felicidade. Em plena paisagem duriense, no imponente Monte dos Amados, ergue-se o Castelo de Morceja, que está envolto em magia. A lenda das talhas nele supostamente guardadas, e alimentada pelo povo durante séculos, é uma incógnita para todos, mas Salvador está certo que as respostas misteriosas da lenda estão lá e igualmente na cidade de Vidouro e na sua catedral.
Este romance envolve os jovens e os menos jovens na importância de normas e de valores, do saber popular e das crenças religiosas. Nos seus episódios de aventura e de mistério, a natureza assume a forma e os sentimentos de uma verdadeira personagem.
Adulto à força desde muito cedo, lutando por se formar a si próprio, este jovem aventureiro parece ter nascido predestinado a ser o herói de uma história de um romance em aberto num país em crise.





Comentários 



Sebastião Barata 

2014-04-20 22:51

Este é um livro rotulado de "romance juvenil", mas que agrada ler em todas as idades. Aliás, tem uma narrativa que pode ser menos acessível aos jovens menos jovens, que a poderão considerar cansativa e um pouco confusa. No entanto, tem muita aventura, mistério, magia, segredos antigos, amizade, namoro, contacto com a natureza, tudo itens muito ao agrado da camada jovem.

Toda a história gira à volta de Salvador, um bom rapaz, diria mesmo um excelente rapaz. Alto, bonito, prestável, sensato, trabalhador, amigo do seu amigo. É órfão de pai desde os dois anos e a sua mãe é a sua referência de vida. Ambos trabalham duramente na sua quinta situada na encosta do rio Douro, desfrutando de uma paisagem maravilhosa, mas sofrendo muito para ganhar o seu sustento. Salvador vive obcecado pelo Castelo da Morceja, uma afloração rochosa próxima da sua quinta, sobre o qual o povo conta algumas lendas, nomeadamente a de que guarda no seu interior uma Talha da Felicidade. Ajudado pelo seu grupo de amigos, Salvador procura desvendar os segredos, em que acredita piamente, especialmente depois de uns sonhos que o deixaram deveras curioso.

É um livro que se lê rapidamente, com gosto e que ajuda a passar umas horas agradáveis. Além disso, é bastante educativo, incentivando os jovens a seguir os bons exemplos dos mais velhos, a defender a natureza e a perseguirem os seus objetivos. Aconselho.

domingo, 3 de março de 2019

A carta que não te escrevi - da Antologia Três Quartos de um Amor (Chiado Ed.)


   Redigo esta carta timbrada de lágrimas. As palavras confortam-me a dor da perda. Tão célere, tão para sempre. Pudera eu afastar os anjos que te envolvem no sepulcro celeste. Pudera eu ser um deles, que te embalaria nos meus braços, eternamente.

    Odeio-me por nunca te ter escrito uma carta, e restar somente esta, que não poderás ler. Talvez a escutes, enquanto balbucio os trechos, que componho para ti.

     Esforço-me para te amar. Esforço-me para me recordar que te amei, efusivamente, louca. Os lábios tremem de emoção, de paixão, de desejo ardente, enquanto vivemos juntos este amor. Tão breve. Tão pouco.

     Efémera a tua existência em união comigo. De alguns anos. Um amor que depois se minou pela doença e se transmutou em dedicação, entrega e carinho. Até que o veredito final te sentenciou e te apartou de mim.

     Choro, juro que choro, mas tento acalentar o sofrimento, com a imagem do ardor dos teus beijos, o ímpeto do teu corpo em mim. Amo-te, juro que te amo ainda, quando sinto a cama vazia de ti e procuro o teu calor; quando coloco na mesa o prato da tua ausência; quando mexo na tua roupa macia, que te protegeu o corpo…quando escuto as aves, que me deixaste, presas aos meus cuidados.

     Sinto este amor manchado pela tragédia, pelo infortúnio dos dias que passo só. Gemendo pela nossa casa. Cheirando o teu perfume por todo lado. Mexendo nos objetos que ficaram para me aguçar a memória.

     As almas perduram eternas e a tua está impregnada em mim. Escuto-a palpitar num ventrículo do coração. Ocupou-o para sempre. Abalou do teu corpo e instalou-se no meu, com a garra de um amor sofrido e descarnado.

     Há sinais e gestos que ficaram: o teu sorriso brando a correr para os meus braços, o baque forte dos nossos corpos colados de suor. As nossas gargalhadas escutavam-se na vizinhança invejosa e atenta para escutar as nossas noites. Os nossos risinhos comprometidos fizeram sempre a cobiça dos outros.

     Cada dia passa dolente e eu isolo-me no quarto para não encarar os rostos dos vizinhos. Apiedam-se da tua partida, zombando de mim. Mas não me importa que o façam, porque tomei uma decisão em teu nome. Todos os dias da vida colocarei as gravações dos nossos gritos em alto som; as gargalhadas que registamos. Quero que te escutem, e que nos escutes aí de cima. Os anjos irão dar-te esse poder, esse dom. Tu mereces, nós merecemos, por este amor tão intenso, flagelado pela morte.

    Assim, meu amor, esta carta não escrita em vida, vai-te chegar aos ouvidos, com o batimento das asas das aves que também amavas, e que rasgarão os céus para te encontrar. A melodia das penas afinará o meu amor por ti.

    Recebe estes trechos soprados e compõe a mais bela sinfonia de amor, acompanhada pelo teu coro de anjos, que eu aqui estarei a escutar o bater do teu coração alado dentro de mim, amando-te eternamente.

sexta-feira, 1 de março de 2019

O Carnaval das crianças do século XIX

  
Aquela alegria e magia frenética do Carnaval de antigamente, não existe. Aquela felicidade de nos mascararmos e vestirmos as peças ou farrapos lá de casa, produzindo os nossos fatos e indo à caixa da costura da mãe ou da avó, ou pedir-lhes ajuda, não existe mais. As brincadeiras e partidas combinadas para pregar sustos aos outros, sem a maldade desta era, era mais natural e divertida.
   As crianças, hoje em dia, entram nos desfiles de Carnaval das escolas, na sua grande maioria, com fatos comprados nas grandes superfícies ou nas lojas chinesas, onde têm um leque variado de fatos, que apelam a essa magia do disfarce, mas não sentem o entusiasmo, o verdadeiro ânimo de se divertir. Quem as vê desfilar ou estar numa parada a aguardar o desfile dos outros, repara como elas estão enfadadas, aborrecidas, ou então a intrometer-se com os colegas, não para brincar e aproveitar esse momento, mas a implicar literalmente. Sentem-se bonitas naquele disfarce, mas quase não se deixam tocar para não sujar ou desmanchar alguma parte da indumentária.
    Os pais e família tiram o dia para assistir. Tiram centenas de fotos para publicar e expor a beleza do disfarce deles. É curioso ver, como os seus olhos estão felizes e maravilhados com o seu petiz. Em primeiro lugar porque alguns não tiveram a oportunidade de se divertir como eles, outros porque ficam emocionados com a sua performance, outros ainda reparam se o seu petiz está mais bonito e bem vestido do que os colegas. 
    Enfim, em tudo isto, resta a superficialidade e o afastamento da verdadeira essência do Carnaval. As crianças já não dançam, já não cantam. Arrastam os pés cansados pelo cortejo, que tem um percurso muito longo. Os seus fatos podem ser ricos ou caros, mas é-lhes dada pouca importância, porque afinal aquele ritual é doloroso. Associam o Carnaval a uma estopada, quase obrigatória e acabam por se divertir muito pouco, porque a Carnaval nada lhes diz. Há outros meios aliciantes para se divertir, esses sim são os que os motivam. 
   É aflitivo ver como qualquer brincadeira é reconhecida como uma afronta e reagem imediatamente com violência, como se tratasse de uma qualquer batalha no mundo virtual. 
    Como mudar estas tendências? Talvez já não haja forma de alterar isto, já estão demasiadamente entranhadas na cultura e na forma de pensar das crianças e dos jovens do século XIX.