As crianças, hoje em dia, entram nos desfiles de Carnaval das escolas, na sua grande maioria, com fatos comprados nas grandes superfícies ou nas lojas chinesas, onde têm um leque variado de fatos, que apelam a essa magia do disfarce, mas não sentem o entusiasmo, o verdadeiro ânimo de se divertir. Quem as vê desfilar ou estar numa parada a aguardar o desfile dos outros, repara como elas estão enfadadas, aborrecidas, ou então a intrometer-se com os colegas, não para brincar e aproveitar esse momento, mas a implicar literalmente. Sentem-se bonitas naquele disfarce, mas quase não se deixam tocar para não sujar ou desmanchar alguma parte da indumentária.
Os pais e família tiram o dia para assistir. Tiram centenas de fotos para publicar e expor a beleza do disfarce deles. É curioso ver, como os seus olhos estão felizes e maravilhados com o seu petiz. Em primeiro lugar porque alguns não tiveram a oportunidade de se divertir como eles, outros porque ficam emocionados com a sua performance, outros ainda reparam se o seu petiz está mais bonito e bem vestido do que os colegas.
Enfim, em tudo isto, resta a superficialidade e o afastamento da verdadeira essência do Carnaval. As crianças já não dançam, já não cantam. Arrastam os pés cansados pelo cortejo, que tem um percurso muito longo. Os seus fatos podem ser ricos ou caros, mas é-lhes dada pouca importância, porque afinal aquele ritual é doloroso. Associam o Carnaval a uma estopada, quase obrigatória e acabam por se divertir muito pouco, porque a Carnaval nada lhes diz. Há outros meios aliciantes para se divertir, esses sim são os que os motivam.
É aflitivo ver como qualquer brincadeira é reconhecida como uma afronta e reagem imediatamente com violência, como se tratasse de uma qualquer batalha no mundo virtual.
Como mudar estas tendências? Talvez já não haja forma de alterar isto, já estão demasiadamente entranhadas na cultura e na forma de pensar das crianças e dos jovens do século XIX.