(Google Imagens)
Numa passagem por um supermercado para comprar o essencial, detive-me a observar os comportamentos das pessoas, que deviam estar informadas sobre as medidas de segurança e higiene a tomar para evitar o contágio pelo Novo Corona Vírus.
Grande parte da informação veiculada nos nossos meios de comunicação é dedicada a esta pandemia, mas, ainda assim, as pessoas que vi pelo supermercado, deverão pensar que o contágio só acontece aos outros.
Confesso que andei em ziguezague para respeitar distâncias. Tive que levantar as portas das arcas frigoríficas com as mangas. Tive que estar a um ou dois metros na fila da caixa de pagamento, apesar de não haver muita gente.
Mas, no meu percurso rápido, escutei algumas barbaridades e vi outras sem razão de ser, porque, supostamente estão todos informados. Desde as luvas que aposto estarem nas mãos das funcionárias durante todo o dia, porque, por exemplo, mexem em dinheiro, e que, afinal, poderão elas mesmas contaminar os outros. Os vidros das arcas repletos de marcas de dedos. Gente e mais gente na área do talho, sem respeitar as medidas de segurança. Idosos e idosos, apesar das recomendações para ficarem em casa, a fazerem compras. Famílias inteiras, com filhos pequenos, que deveriam respeitar o recolhimento responsável. Outras pessoas que andavam atrás dos pequenos de tenra idade, vigiando-os, mas permitindo que tocassem em tudo e suplicassem tudo o que queriam.
Escutei conversas e meti-me noutras, porque não consegui ficar calada. Frases ao telemóvel como estas: "Eh pá! Amanhã, já sabes, tens que ficar em casa, que é a quarentena e é proibido sair. Tu vê lá, que pagas uma valente multa!" Como se essa responsabilidade civil, de todos nós, tivesse dia, hora marcada. Tivesse que ser controlada por qualquer autoridade, que não a nossa própria consciência. Como se o vírus fosse sair à rua àmanhã e fosse obrigatório estar preso em casa e as precauções e cautelas de qualquer um de nós tivesse um momento marcado para acontecer.
Outras pessoas diziam que iam ficar em casa a fazer limpezas, dormir, ler livros, brincar com os miúdos, etc., que havia muita coisa para fazer. Outras ainda diziam que tinham os pais doentes, que era só uma constipação, mas que não iam deixar os miúdos lá, porque era perigoso. Tudo bem. Certo! Mas tudo isto, porque as escolas estavam fechadas. Remeti a minha reflexão para a importância da escola na vida das crianças e dos pais.
Meus caros, a quarentena não começa àmanhã, o recolhimento sim! Todos os contactos sociais de risco são de evitar. Há muito que as regras e sugestões dos responsáveis pela saúde, têm vindo a público, mas julgo que só muito recentemente nos apercebemos da sua dimensão, quando vimos o cerco a apertar, os casos a aparecer no nosso país, os nossos países vizinhos a registar casos de tragédia nacional. Enfim, quando compreendemos que as autoridades queriam salvaguardar as nossas crianças e o contacto delas com os profissionais de ensino. A escola como um foco possível de contágio, por envolver milhões. Quando nos apercebemos que este mundo global, afinal, fica ao nosso lado, perto de nós, e como viajamos, trabalhamos lá fora ou partilhamos o nosso dia a dia com pessoas estrangeiras, em negócios e contactos comerciais ou pessoais, era fácil o contágio e a propagação do vírus.
Talvez seja o momento de aproveitarmos a vida em família, no cantinho do nosso lar. Talvez seja o momento de aprender a importância de estarmos em família, centrados nela, para além de, com o nosso recolhimento, possamos respeitar a vida dos outros. Teremos que ser inventores de estratégias para acalmar o stress dos pequenos por estarem fechados e o nosso para evitarmos que o bicharoco alcance o nosso seio familiar. Teremos que ser guerreiros no travar desta luta.
A quarentena pode ser decretada ou até as fronteiras serem fechadas, mas isso não irá impedir que a doença nos bata à porta, de uma forma silenciosa. Espalhou-se tão rapidamente que poucos pensariam, há uns meses, que um vírus pudesse dominar e atravessar o mundo e dizimar parte dos seus habitantes num cenário de qualquer filme aterrador.
Ficará a lição que o ser humano ainda não descobriu, nem sabe tudo.
Ficará a lição de que precisamos uns dos outros para nos salvar.
Ficará a lição de que a família, a saúde são mais importantes do que qualquer poder ou sucesso pessoal.
Ficará a lição que desta experiência restará a recessão do mundo perante a calamidade humana causada por este vírus.
Ficará a lição que as tradições gastronómicas de um povo podem condenar a humanidade e que talvez seja necessário alterá-las ou mesmo proíbi-las para que não voltem a originar acontecimentos a escala mundial como este.
Ficará a lição, para uma potência em crescimento mundial que, talvez, devam simbolicamente um pedido de desculpa ao mundo, porque, com as suas tradições gastronómicas, culturais e formas de estar na vida, afetaram imenso o seu país e os países do mundo.
A quarentena não começa àmanhã. A quarentena pessoal e familiar devia ter começado há muito tempo, mas existem muitos que continuam a agir como isto fosse uma brincadeira e o seu egoísmo é tal que, nem se dão ao trabalho de ser humildes e solidários com os outros, respeitando as normas de higiene e segurança propostas.
Seja responsável, àmanhã pode ser tarde demais, para colocar um travão, o mais depressa possível, no avanço desta tragédia mundial.