sexta-feira, 17 de maio de 2019

Gomas, chupas e chocolates

"Dê-me um copo de água"- Pediu uma criança pequenina ao empregado de balcão num café. Olhei para o petiz, não teria mais de três anos. Encontrei o motivo para aquela sede após o almoço. Uma chupa gigante.
"Três euros de gomas" - Solicitou um idoso na lojinha. - "É para os meus netinhos…"
"Menina, quero um chocolate de leite" - Pediu o jovem no bar da escola. E ela responde: "Não sabes que apenas vendemos chocolates a partir da 1h?" 
Parecem situações ocasionais e pouco comuns. Não, infelizmente, não são. É habitual isto acontecer e, o que é mais inacreditável - todos os dias. 
As crianças e os jovens estão a consumir quilos destas guloseimas, de manhã, entre as refeições, à hora de almoço ou do jantar. É um vício que se torna um hábito. É um vício que se os vai alimentando, enchendo de açúcar o estômago, durante o dia, em vez de comerem às refeições saudavelmente. 
Os jovens, na posse de algum dinheiro, que trazem para a escola e que havia de ser gasto em alimentos nutritivos, compram ou trazem dois ou três euros de gomas e de chupas, para entreter a boca, comendo e oferecendo aos amigos. 
É grave e muito prejudicial para a sua saúde e os pais e os avós, não põem travão a essa necessidade exagerada de comer doces. 
Deixo aqui o alerta para todos, para que vão fazendo entender as crianças, desde tenra idade que, comer este tipo de guloseimas, é bastante prejudicial. Se me permite, o adulto deve dar o exemplo e, não ser ele, a incutir o prazer que têm de comer estas coisas e que vão futuramente afetar e, em muito, a sua saúde oral e o seu bem-estar. 

quinta-feira, 16 de maio de 2019

O efeito libertador da escrita

    
Há quem afirme que a escrita é um abrigo, um refúgio, um escape à vida real, uma entrega… A escrita pode ser tudo isto, mas, para mim, a escrita tem um efeito libertador, purificador e relaxante. Através da escrita tudo se consegue, desde que se sinta o que se escreve. A pessoa frágil consegue-se fortalecer, trabalhando as palavras, dando-lhes poesia, consertando enredos e personagens numa ficção.  
    A liberdade para se exprimir impõe-se, quando se usa a escrita. O escritor altera-se, transforma-se, metamorfoseia-se, quando produz uma obra, seja ela, um soneto, um conto ou um romance. Entra no seu mundo, arranjando estratégias, registos, géneros, ou modelos de escrita, e cria o seu próprio estilo. Dá-se ao luxo de inventar palavras, porque tudo lhe é permitido. É dono e senhor do seu processo de escrita, criando, se entender, uma forma pessoal para quebrar normas rígidas. 
      O escritor sente-se livre através da sua produção, mesmo que o olhem com desconfiança. Acredita piamente em tudo o que escreve, apesar de o considerarem menor. Porque ele é grande no seu ego de escritor, produtor de obra inventada, de algo que ninguém criou.
       O escritor projeta a esperança, não parando de acreditar na força das suas palavras, dos seus textos. 
       É assim que se liberta, mostrando aos leitores, que se entrega a eles, mas não depende deles para sobreviver, porque a sua sobrevivência acontece, quando se prepara para começar a escrever de novo. 
     

quarta-feira, 15 de maio de 2019

A importância das Feiras do Livro

   
A minha primeira Feira do Livro


Já estive presente em muitas Feiras do Livro de escolas, de Bibliotecas Municipais, etc., e, cada vez que me surge a oportunidade, não hesito em comparecer, mesmo que isso me acarrete despesas. Aprecio imenso o contacto direto com o público. 
   Para os leitores, em geral, que passam por estes eventos, ao ver o escritor no stand/ pavilhão à disposição deles, para um possível autógrafo, é irrelevante, se não for um escritor conhecido no cenário editorial, mas para esse escritor é um orgulho, uma vitória, o resultado de uma caminhada que se faz para o sucesso. 
    Sou daquelas escritoras que são incapazes de ficar alinhadas e direitinhas, sentadas numa cadeira, por detrás de uma mesa plena de livros e, impávida e serena, aguardar que as pessoas se acerquem de mim. Gosto de me apresentar, de as abordar e dar um lamiré da obra ou obras que represento. Não consigo ficar estática e tento estimular a curiosidade dos leitores. Posso estar errada e ser alvo de críticas por atuar assim, mas não tem corrido assim tão mal. Quando afirmo que não corre mal, deixem-me concretizar melhor uma situação. Estar a quase quinhentos quilómetros da área geográfica e espacial de um romance e vender livros, é extraordinário. 
     Nestes anos tenho presenciado muitas formas de receber e conversar com os leitores e constato que um autor fazer de estátua, sem retribuir um sorriso, frio e calculista, pensando que o mundo irá ter consigo, não é forma de estar, nem de divulgar ou vender os seus livros. O autor tem que se evidenciar, se mostrar humano, acolhedor e simpático, sem ser inoportuno, tirar a fotografia e partilhá-la nas redes sociais, blogues ou sites, para que se promova a si próprio.  
     Obviamente que um autor de bestsellers presente numa Feira do Livro, não necessita desperdiçar a sua simpatia e sorrisos com os leitores, porque somente o seu nome, a sua obra famosa, que o consagra, basta para que tenha filas de leitores de livros na mão para pedir autógrafos. Tem uma máquina promocional enorme para o divulgar e o conhecimento da sua presença, produz quase uma corrida eufórica para o ver. 
     De qualquer modo, as Feiras do Livro são extremamente importantes, enquanto espaços de partilha de conhecimento, de cultura e do que vai fazendo pela literatura.  

quarta-feira, 8 de maio de 2019

Um salto para o reconhecimento nacional

    

Houve um dia em que conheci um autor, num encontro de lançamento de uma antologia, que se destacava na audiência pela sua vaidade, a sua grandiloquência de palavras pomposas e poéticas. A sua forma de vestir antiquada dava-lhe um jeito artificial, distante e altivo. Diria mais, egocêntrico e pouco interessado nos outros que o rodeavam. 
     O orgulho por estar ali presente e ser premiado, mesmo no segundo lugar, pareceu-me excessivo, como se soubesse há muito que era o melhor entre aquelas dezenas de escritores. 
     Escutei a leitura do seu texto e, francamente, não gostei, mas quem era eu perante tão sábia cultura e conhecimento.
     Ontem vi uma publicação de uma editora e a menção de um  livro e de um autor, que havia sido o vencedor de um Prémio Literário, e isso despertou-me imenso à atenção.    
     Percorri curiosamente as fotos e reconheci imediatamente a pessoa premiada. O autor das palavras pomposas e grandiloquentes! Mal contive o meu espanto. Afinal o senhor escrevia bem. As palavras rebuscadas e poeticamente estranhas e superficiais daquele senhor, haviam encantado um júri nacional. 
     Pobre de mim que aprecio a simplicidade do discurso ficcional! Pobre de mim que tenho seis livros publicados e um conjunto de participações em antologias e que as tento divulgar com a maior proximidade que consigo do público! 
     Depois destes lamentos, conjeturei… ora, pois então, cruzei-me ocasionalmente com este senhor escritor em finais de outubro de um ano destes e ele já sabia naturalmente do prémio literário que iria receber no final desse ano, mas mesmo que não soubesse, puxou naquela altura por todos os seus galardões para se mostrar o melhor … Eu não consigo ser assim, mas, deixem-me sonhar… passo a passo, sem vaidades e orgulhos excessivos, quem sabe um dia destes também me sorria uma oportunidade destas.
    Muitos defendem que vencer um Prémio Literário acaba por não trazer grandes progressos ao autor, mas que me desculpe quem pensa assim… pode não trazer, mas ajuda. Ajuda logo ver na sua conta milhares de euros. Ajuda ver o livro publicado com a chancela do patrocinador do Prémio numa editora relevante. Ajuda a chegar ao público porque o seu nome aparece em qualquer lugar associado ao Prémio Literário. É verdadeiramente um salto para o reconhecimento nacional. 
     Se o autor e a sua editora aproveitarem esse impulso favorável para vender livros, realizando eventos, tanto melhor. O autor projeta-se e a editora também, mas se o autor se fecha na concha protetora do Prémio e decide parar no tempo, enchendo-se de vaidades e orgulhos, alguma frieza e distância do público, ficando pela honra do Prémio e pelo livro, não irá longe.

Presença em Feiras do Livro para um autor desconhecido

    
A presença numa Feira do Livro poderá ser algo habitual e comum para a maior parte dos escritores.    Muitos autores, por iniciativa própria, ou através de contactos que têm, de quem organiza estes eventos, vão percorrendo o país e não faltam a uma Feira do Livro. Há igualmente escritores que têm o apoio incondicional das suas editoras e, graças a elas, vão escalando os degraus do mundo ou mercado editorial e, assim, se vão tornando conhecidos do grande público. Haverá ainda um grande grupo de autores, que se desloca de Feira em Feira, selecionando as mais famosas e com grande afluência de público, tendo os organizadores que pagar às editoras ou aos próprios autores, para fazer deles cartaz da Feira e, assim, se atrair público.
     Certamente que, para quem está fora deste meio, julgará que tudo isto é simples e fácil. O público em geral pensará que, basta ter um livro publicado e ser um autor motivado e empreendedor, que a presença numa Feira do Livro afamada, como a de Lisboa, do Porto, etc., estará à partida garantida. Pois, não é assim tão linear. O caminho a percorrer não é facilitado, mesmo que o escritor tenha grandes virtudes e seja trabalhador e lutador.
   Um escritor desconhecido procura as oportunidades e estar numa Feira do Livro é algo honroso, valioso, e invade-o de grande orgulho. 
    Um escritor, que não tenha ainda uma auréola em seu redor que lhe dê "cunho de qualidade", ditado por alguém do universo literário, versus "fama e destaque", atribuídos pelos leitores, poderá não ter a supremacia de um autor afamado, que vende centenas de livros à sua editora, mas tem o brilho da novidade nos olhos, empenhando-se com valentia e persuasão. Poderá não enriquecer a sua editora ou receber direitos de autor, mas, com a sua humildade verdadeira, a "pobreza" rica da sua entrega, aplicando o seu dinheiro sem retorno, conserva a esperança de, no futuro, olharem para ele, como um escritor válido, ou em quem se deve apostar. Sonha que possam acreditar no seu talento.
     Por isso, estar presente numa Feira do Livro, seja qual for a sua dimensão ou projeção, é um feito enorme, para um autor desconhecido, que caminha no sentido de que se aposte em si e nos seus projetos.
     Com este apontamento quis trazer o assunto para que se desmistifique a ideia de que estar numa Feira do Livro é acessível a qualquer um. Segura estou, por experiência pessoal, que estar lá tem significados diferentes para os escritores, e que variam consoante a posição que ocupam no mundo editorial, o apoio que têm das suas editoras, a forma como encaram estes eventos e interagem com o seu público. De qualquer modo, para o escritor no início de uma carreira é um passo muito importante; é um marco relevante e qualquer abordagem que faz aos leitores, ficará na sua memória.   

sábado, 4 de maio de 2019

As minhas mães

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Tenho uma mãe, que me trouxe ao mundo, que me mimou e educou, mas ainda agora, dei comigo a refletir, não só sobre o papel exemplar e guerreiro da minha mãe, mas no papel de muitas que tive, ao longo da vida. Cheguei à conclusão que tive imensas mães em momentos fulcrais ou difíceis. Algumas nem eram muito mais velhas do que eu, mas foram quase minhas mães. 
Sinceramente, apetece-me dividir esta reflexão convosco, meus leitores!
Foi também minha mãe, a D. Mimi, uma senhora de idade, que vivia perto de mim e que era como uma ama, com quem aprendi imenso em criança. Foi minha mãe, a minha própria irmã, que me fez ver o mundo em jovem, aprender a aceitar-me como era e a gostar de mim. Também tive muitas mães amigas de escola, que me davam nas orelhas, quando me viam triste, encostada aos cantos. Tive uma mãe em Coimbra, a D. Natália, que me acolheu nos tempos de estudante e que deu carinho e atenção, como se eu fosse verdadeiramente sua filha. Foi minha mãe a minha madrinha, que me deu orientações sobre que caminho tomar,  bases para a minha formação. Tive várias mães colegas de profissão que me ajudaram a fazer-me adulta. Tive ainda uma mãe ou duas mães freirinhas, num convento na Batalha, num momento complicado da minha vida familiar, e em plena crise financeira, que me deram a mão a mim e aos meus. 
Bem, tive algumas mães que tiveram uma função de me educar e de me formar e me transformaram na pessoa que hoje sou, e "mães", que foram autênticas madrastas.
Umas, ainda estão presentes na minha vida, outras infelizmente já partiram. 
À minha mãe eu desejo um feliz e saudável dia, às outras agradeço o terem feito parte da minha vida, porque pelo bem ou pelo mal, foram uma boa aprendizagem!

segunda-feira, 29 de abril de 2019

Promoção para o Dia da Mãe

      As mães gostam de flores, de beijos e de abraços, quiçá de um chocolate, de um jantar fora com a família. No entanto, há mães que apreciam outro tipo de surpresas - uma viagem, um fim de semana sem os afazeres diários em casa, uma ida ao cinema ou ao teatro, ou um bom livro. 
     Tenho insistido imenso na minha página de Facebook na promoção do meu livro, e aproveito, eu própria, enquanto autora, para ajudar na campanha promocional da Bertrand online, ou uma WOOK, com os seus descontos, ou até do site da minha editora. Perguntar-me-ão para que é que faço isso? Obviamente que o único benefício concreto desta minha insistência é o de promover e divulgar a minha obra, não é decididamente para enriquecimento pessoal. Estou bastante habituada a fazer este trabalho, mas hão de concordar comigo que não deveria ser assim. Deveria estar sossegada à espera que quem tem o dever de me divulgar o fizesse. Meus caros, desiludam-se! Simplesmente, por muito bom trabalho que se faça e prometa, somos um só número num universo de colegas autores, uns mais conhecidos do que outros, que lutam pelo seu lugar ao sol. Assim, não terei outro remédio senão arregaçar as mangas para tentar que, um dia destes, também tenha um raiozito de sol para mim. Não é egoísmo, não é sentir-me mais do que os outros… cada um no seu lugar… é ter frutos de todo o meu esforço. Apenas lamento que quem devia estar ao meu lado nesta luta, se limite a fazer de conta que não existo, que não pertenço ao grupo dos favoritos, que não valha a pena o esforço para me projetar mais. 
    O recado está dado e, acredito que se entende, pelas minhas palavras, a que me refiro. Acredito igualmente que esta sensação mista de injustiça, desalento, quase revolta, passa pela mente de quem escreve e publica. Apesar de tudo, eu recuso-me a desistir e, daí que, vos encharque de links, de posts, de publicações a apelar pelo meu ou meus livros. Só assim me sinto completa e feliz no mundo dos livros, enquanto não conheço a realidade de viver dos livros (se é que existe). Seria desejável que houvesse alguém que apostasse verdadeiramente em nós, mas o nosso pequeno talento ainda está escondido, envergonhado. Porém a esperança persiste.
    

quinta-feira, 25 de abril de 2019

Já fui livre...




Já fui livre neste país pequeno e verdejante.

Já voei alada e feliz pela verdadeira liberdade.

Quando o Abril chegou com o cravo empolgante,

tingi-me de vermelho como as tropas pela cidade.



Já fui libertina, sem qualquer réstia de medo.

Nunca dei atenção à voz dos acutilantes tiranos.

Receio agora o monstro corrupto em segredo,

que domina cruel pelo globo nestes meus anos.



Já fui livre. Não sei se sou neste torpe universo,

quando assisto à impiedade fria da rude matança,

onde o Homem se mostra como um animal perverso.



Já fui livre. Não sei se ainda tenho essa confiança.

Se ser livre é viver num mundo descrente e adverso,
o que me resta dele é uma tão ínfima esperança.

terça-feira, 23 de abril de 2019

Quem esqueceu o Dia Mundial do Livro?


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Quem esqueceu O Dia Mundial do Livro?

Esteve bem visível e dinamizado nas escolas. As livrarias lembraram este dia em qualquer canto deste país. As editoras promoveram os seus maiores bestsellers, divulgando promoções, ofertas, etc. Houve uma marcha pró-livro e leitura em Lisboa, dinamizada e organizada pelo Projeto do Programa PNL 2027. As bibliotecas levaram a cabo muitas atividades pelo país. Alguns autores, a título individual, fizeram apelos à leitura, publicaram excertos do que escrevem, dos seus livros. As televisões divulgaram estatísticas sobre os hábitos de leitura das crianças e da aquisição de livros em Portugal. Nas redes sociais proliferaram muitas publicações, apelando à leitura e à comemoração deste Dia Mundial. Enfim, mil e uma atividades desenvolveram-se no país e no mundo...
Volto a perguntar:  quem esqueceu o Dia Mundial do Livro?
Quem não lê, não gosta de ler. Quem não se importa com mais um dia comemorativo, seja o que for, do Livro, da Leitura. Quem pode ver no livro um negócio, mas o que lhe interessa em somar dividendos e ganhar reconhecimento no mundo livreiro.  
Hoje de manhã escutei Teresa Alçada referindo que é importante ler seja de que forma for e cultivar o prazer da leitura desde a primeira infância, mas, na verdade, ainda há muitos pais reticentes que consideram a leitura um aborrecimento, "uma perda de tempo". 
Quem esqueceu o Dia Mundial do Livro, esqueceu que o livro pode construir a sua própria cultura, a sua identidade e o ser social que é. 




segunda-feira, 15 de abril de 2019

Para que é que serve o Registo Criminal?


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À hora de almoço, num programa de grande audiência, assisti a mais uma história real e infeliz da nossa sociedade atual, na rubrica criminal.
Atendendo ao aspeto marcante desta história ser horrivelmente macabra e horrenda, salientou-se, com bastante reforço, tratar-se de um professor do 1º ciclo, em Leiria. Não um homem qualquer - um professor. Sabendo que esta insistência acaba por provocar sentimentos de repulsa, pela profissão que desempenha, e até provoca o medo ou pânico nos pais, que, todos os dias, deixam os seus filhos entregues a um professor, salientou-se que, este homem de 37 anos, havia violentado e violado a sua enteada, com menos de 14 anos, durante dois anos. 
O repórter, defronte a um estabelecimento prisional, contou com insistência toda a história e, para além de se referir ao facto de que o criminoso estaria isolado na ala feminina da prisão, fechada há anos, para evitar o linchamento da parte dos outros presos, para sua salvaguarda. 
O que me traz aqui é um facto que ele explorou, digno de toda a preocupação, relativamente ao facto de o criminoso ser eventualmente libertado, depois de ouvido, com pulseira eletrónica e termo de residência, e ir requerer voltar ao trabalho, ou seja, a lecionar na sua escola e aos seus alunos do primeiro ciclo.  Conjeturava o repórter que, a escola do professor, não teria legislação para se opor ao seu regresso. E ele estaria em contacto com as crianças. Insistiu naquele aspeto, afirmando que nem aquela escola, nem nenhuma teria legislação, perante uma situação crítica como aquela, de obrigar um professor a não regressar ao trabalho. Até consigo adivinhar os que os pais farão perante tal notícia. 
Caros leitores, parece-me haver aqui uma certa falta de informação. Sim, há um mecanismo legal. Todos os anos, nós, os professores e os funcionários que trabalham com menores, têm que obrigatoriamente solicitar e/ ou entregar um documento nas suas escolas e/ ou agrupamentos diretamente dos serviços competentes da lei, dando conta que não há registos de crimes. Ora havendo um registo, que não está limpo, julgo que o professor, educador, assistente, ou funcionário de qualquer outra função, ficará automaticamente impedido ou condicionado a trabalhar com crianças ou jovens, ou não é assim?
Se assim não for, para que é que serve este documento oficial e importante, que todos nós entregamos no início do ano letivo?

domingo, 14 de abril de 2019

Conseguias viver sem o telemóvel?

Resultado de imagem para telemóvel malefíciosColoco esta pergunta imensas vezes e reflito sobre ela esporadicamente quando me vejo perante certas situações.
Eu sou daquelas pessoas que tiveram o privilégio de viver sem tecnologias e olharam com desconfiança a proliferação delas. A forma agressiva com que entraram na nossa vida, sem pedir licença alguma. A maneira com que nos obrigam a uma atualização permanente e a uma adaptação instantânea, doutro modo,  ficaríamos à deriva e ultrapassados pelos outros. Confesso que o telemóvel foi uma daquelas invenções da modernidade que me assustou. Cómoda e prática, confirmo, para qualquer urgência ou necessidade; acessível, quando me procuram e facilmente me encontram; intrusa, porque me invade a vida em qualquer lugar e a qualquer momento. Mas o telemóvel, em todas as suas modalidades inovadoras e caras, que nem me interessa saber as suas funcionalidades, é mais do que tudo isto, é invasor e transformador das interações sociais das pessoas. Consegue ser simultaneamente um meio de contacto imediato com as pessoas e um inibidor de relações interpessoais, quando funciona como um meio de isolamento familiar e social. Ocupa muito do tempo que antigamente se tinha para conversar ou qualquer outra atividade interessante.  
O que pensar quando vês uma criança de três ou quatro anos, a sair de um carro, numa estrada perigosa, amparada pelo avô, para não atravessar a rua às cegas, com os olhos literalmente colados no telemóvel ou ao tablet? 
O que pensar da distração, stress e aceleração em que as pessoas vivem, mesmo na condução, sempre a deitar olho ao telemóvel, pondo em risco a sua e a vida dos outros? 
O que pensar dos jovens que andam distraidamente pelos passeios, atravessam estradas, andam de bicicleta, sempre de phones na cabeça, que não se apercebem do que os rodeia e se colocam em risco constantemente? 
O que pensar quando falas com um jovem, julgando que te escuta, e tens que lhe dar um toque num braço, porque te apercebes que não te está a escutar, mas com os phones nos ouvidos? 
O que pensar quando vais sossegada na rua e escutas sem querer a vida de toda a gente alto e a bom som? 
O que pensar quando vês que quem te rodeia usa aquele objeto de uma forma viciante?
O que pensar quando estás numa sala de espera no dentista e vês seis pessoas dos oito ao sessenta, todas entretidas com o seu telemóvel, e és a única que não estás vidrada naquele objeto, a jogar, a dedilhar as páginas das redes sociais, mas a deliciar-te com a música na televisão?
Tens vontade de cantar alto. Tens vontade de provocar consciências. Tens vontade de dizer, quando escutas que estão a falar sozinhos com o objeto, que estão em risco de ter problemas de saúde mental!

Conseguia viver sem o telemóvel?

Eu, sim, mas duvido que milhões de pessoas no mundo conseguissem. Não se libertam dele por nada na vida. O telemóvel acorda-os; o telemóvel agenda-os; o telemóvel dá-lhes as notícias, o tempo, a música, etc.; o telemóvel é um meio para nos dar alegria e frustração; o telemóvel lembra-os de tudo, exceto de viver a vida sem ele.

Óbvio que, como qualquer ser humano, o uso para contactar e estar contactável, para enviar mensagens e receber, mas, por opção, decididamente, para pouco mais do que isso. Ainda consigo resistir a perder o meu tempo com esse objeto. 
Podem chamar-me antiquada, mas gosto muito mais de conversar e rir com quem falo, do que estar a falar com alguém, e sentir que essa pessoa não está ali, mas com os olhos dedicados a procurar respostas e conversas de outras pessoas no telemóvel. 

Eu era capaz de abdicar deste objeto e tu?


domingo, 7 de abril de 2019

Quando se quer muito um livro...

Há uns meses partilhei com uma jovem empregada de um hipermercado que adoraria que o meu livro estivesse lá à venda. Fez menção de o querer adquirir e disse-lhe onde o podia encontrar. 
Naquela altura estava prevista a minha ida à Feira do Livro de uma cidade vizinha, e, como a jovem era da região, informei-a do evento, convidando-a a aparecer por lá. Não pode, mas, assim que me viu novamente no hipermercado, pediu-me desculpas por não ter aparecido. 
Meses passaram e hoje, ao fim da tarde, dirigi-me ao hipermercado e quem me veio atender - a jovem. Riu, cumprimentou-me e disse-me:
 - Já tenho o seu livro e estou a lê-lo. Estou a gostar muito. Olhe, devia escrever outro como este. 
Confessou-me que não tinha sido fácil encontrar. Não o conseguira encontrar em Torres Novas, como eu lhe tinha indicado. Tinha-o comprado bem longe, em Barcelos, numa Feira do Livro. Tinha uma irmã a morar lá e, como a tinha ido visitar, andaram as duas entretidas à procura do livro e lá o acharam. 
Fiquei incrédula com a persistência da jovem, que, em vez de recorrer a uma WOOK, ou Bertrand, ou ao site da editora, preferiu procurar o livro, como a maioria dos leitores preferem, ao seu alcance, à sua disposição para o poderem folhear. 
Por um lado significava que não desistira de procurar o meu livro. O livro afinal existia no país, no norte de Portugal. Lamentavelmente não existia na localidade onde a história, o contexto dizia respeito. 
Agradeci a atenção, o carinho daquela leitora jovem, que me confessou estar a adorar o livro, ela que não gostava de ler, mas aquele livro estava a prendê-la. 
De seguida refleti sobre a importância de se querer muito um livro, porque quando se quer muito, mas muito, tenta-se adquiri-lo a todo o custo. Nem que se vá buscar a muitos quilómetros de casa.
Antes deste encontro a minha mãe havia-me contado que uma antiga vizinha minha lhe tinha perguntado onde podia comprar o meu livro e ela deu-lhe as mesmas indicações - livrarias de Torres Novas. 
Espero que o encontre. Acredito que se não o encontrar, não vá ter a mesma vontade e persistência daquela jovem. Sabem o que acontece aos leitores que pretendem um livro e não o encontram? Esquecem rapidamente esse livro. 
Este é o meu receio.

segunda-feira, 1 de abril de 2019

Partilhas saudáveis entre escritores

Ao longo destes anos têm sido diversas as experiências que partilhei com colegas escritores. Normalmente ocorrem em Feiras do Livro, que cruzamos, por este país. É bom saber que aprendem connosco, mas que também aprendemos imenso com eles. 
Desta vez, na Feira do Livro de Leiria, não foi exceção. Juntaram-se ali autores de diferentes idades, de diferentes editoras e tivemos oportunidade de saber que todos partilhamos mais ou menos as mesmas ansiedades, lutas, o mesmo prazer gratuito e voluntário de entrega a uma causa, projetando o que escrevemos para o nosso público. 
Fiquei particularmente encantada com os meus colegas estreantes, ainda novatos nestas andanças, que absorveram as nossas ideias e as acolheram com agrado. 
Editoras à parte, que, nestas partilhas e experiências conjuntas, não devem existir querelas, nem guerras de quem vende mais ou melhor, julgo que todos conseguimos verdadeiramente algumas vitórias - a construção de laços, a aprendizagem para uma caminhada mais firme e segura e algumas estratégias de marketing e promoção para alcançar e motivar o público leitor.
Naquele lugar, na nossa mesa de autógrafos, ninguém esteve a espreitar quem vendeu mais ou se encheu de inveja por um vender e o outro não. Todos desempenhamos o nosso papel de dar a conhecer os nossos livros. E estavam ali representados vários géneros literários: a poesia, o conto infantil, a ficção, o romance histórico e o thriller. Havia todo um leque diversificado e um leque de autores, de olhos vivos e brilhantes, com um sorriso, pleno de esperança. 
Pensando bem, entramos nestas atividades ou eventos, por amor à camisola, acreditando no futuro, na nossa vocação e  no poder que temos em nos tornarmos visíveis. Tornamos estes eventos em convívios de partilhas saudáveis e positivas. Acreditamos igualmente que os leitores um dia nos darão crédito, acompanhando tudo o que escrevemos como bom e de qualidade. 
Ficou-me na memória ainda uma história do cicerone do painel de autores presentes… e que nos deu ainda mais força para continuar...Segundo ele, há mais de uma dezena de anos, havia recebido na Feira do Livro, localizada noutro espaço da cidade, um autor desconhecido, tal como nós, para uma sessão de autógrafos: José Luís Peixoto. 
Esta é a mensagem que resta - da semente que plantamos hoje, pode crescer uma bela e frondosa árvore, que dará frutos suculentos.